Cabaláh:
O SEGREDO DOS SONHOS
Não é muito difícil
afirmar que cada pessoa sonha, ou que alguma vez sonhou. Ao despertar de um
sonho agradável ou de um pesadelo, é natural que surjam uma série de
interrogantes e o impulso lógico é buscar respostas no campo secular, sem
pensar que a Toráh, que contempla cada aspecto da vida, desde o mais
significativo ao mais mundano, nos proporciona um acúmulo de informação que
serve de guia e tem a virtude de ser verídica. É surpreendente a quantidade de
referências que existem, além da Toráh, no Talmud, no Midrash, na Hagadáh, as
obras filosóficas, nos códigos de leis judaicas e especialmente nos escritos
místicos da Cabaláh e da Chassidut.
Os sonhos têm uma vida tão longa quanto a do ser humano.
Alguns dos sonhos relatados na Bíblia têm caráter profético. O Talmud afirma
que os sonhos contêm importantes predições e Maimônides assevera que muitos
profetas viram suas profecias em sonho.
O primeiro sonho profecia, o teve o Patriarca Avraham, quando
fez o Pacto com D’us e Este lhe assegurou que seria pai de um povo números.
Neste momento ele ficou adormecido e, em sonhos, ouviu a voz de D’us, o Qual
predisse o futuro de sua descendência, seus sofrimentos no desterro e sua
recompensa. O segundo sonho profético o teve o Patriarca Iahacov, quando fugia
do seu irmão Essav e viu a escada que chegava até o céu, pela qual ascendiam e
descendiam anjos. D’us lhe falou de cima da mesma, prometeu-lhe proteção e
fecundidade e assegurou-lhe que esta terra pertencia à sua descendência. O
terceiro sonho profético é o de Iossef, o dos feixes no campo, o sol, a lua e
onze estrelas que se inclinam diante dele. Logo se relata a explicação que
Iossef deu aos sonhos do copeiro e do padeiro do Faraó, bem como a
interpretação dos sonhos do próprio faraó, que se cumpriram com os sete anos de
abundância e os sete anos de seca e fome.
As fontes bíblicas e Rabínicas distinguem entre os sonhos
proféticos e os chamados sonhos normais, que podem expressar aspectos pessoais
cuja importância depende não só da compreensão de quem os sonhou, mas da
perspectiva objetiva que outro lhe possa acrescentar. Os sonhos podem conter
uma mensagem ou ser a expressão da configuração dos pensamentos que a pessoa
armazenou.
O ponto crítico é que os Sábios do Talmud consideram que as
pessoas não sonham para satisfazer um desejo - seja este de ordem sexual, como
o postula Freud, de poder, segundo Gustav Adler, ou de uma inspiração cósmica e
transcendental, como o afirma Carl Jung. Muito mais que isso, eles vêm os
sonhos como expressão de toda uma ampla gama de idéias que vai desde
acontecimentos quotidianos, não assimilados, até o mais profundo simbolismo;
desde desejos irracionais à racionalidade; da moralidade à sabedoria
inconsciente - uma função muito importante do processo mental que, eles supõem,
pode ser potencial para inspiração divina.
Outra característica comum dos sonhos é a linguagem
simbólica, aquela na qual as experiências, sentimentos e pensamentos são
expressos como se fossem vivências sensoriais ou eventos do mundo real.
É uma linguagem com uma lógica diferente à que temos quando
estamos despertos, está governada por intensidade e associação em vez de por
tempo e espaço; é universal, e a raça humana a desenvolveu em forma constante.
O Talmud fala da necessidade de interpretar os sonhos; um
sonho mau pode transformar-se em um bom, o que se chama "melhorar o
sonho", pois ao se interpretar para o bem, o bom se cumprirá, sendo certo
também o contrário. Os reis de outrora contavam entre seus assessores com
pessoas com a habilidade na interpretação dos sonhos; houve sábios judeus que
se dedicaram a esta disciplina e no Talmud se fala de 24 especialistas neste
assunto que residiam em Jerusalém e eram generosamente retribuídos por seu
ofício.
Sonho
e exílio
O tempo do exílio do povo de Israel, a Galut, foi comparada
com um sonho, pois está escrito nos Salmos 126:1: "Quando D’us fizer
retornar os exilados de Sion, será como se houvéssemos sonhado". Como se
viu, num sonho podem coexistir os opostos, os paradoxos, as contradições, como
o ladrão que pede a D’us ajuda para obter êxito na sua faina; ou como o homem
que enquanto está rezando se sente próximo de D’us mas que logo da prioridade
às necessidades do corpo e aos prazeres mundanos.
Em termos macrocósmicos, o mundo se considera dormindo, incapaz
de reconhecer a Divindade que o permeia; só percebe o tangível, a realidade
física, e considera a espiritual um mito, já que esta não está revelada. Este
estado de sonho, para o mundo em geral e para os judeus em particular, só
persistirá até a chegada de Mashiach. Neste momento, o mundo se
aperfeiçoará e a Divindade ficará a descoberto. A revelação Divina, como a luz
da manhã, despertará os dormidos filhos de Israel. Assim como a luz do dia
segue à escuridão da noite, do mesmo modo a luz revelada virá depois da
escuridão do exílio; será o fim das contradições, o final do sonho; a mudança
total de um momento a outro, o despertar do mundo para uma nova era.
O ponto de vista místico
Considera-se que quando a pessoa dorme, sua alma se libera
das limitações e vínculos que o corpo lhe impõe na vida diária. A alma tem
cinco níveis: Nefesh, que é o impulso vital; Ruach, que nos permite
funcionar; Neshamáh, Chaiáh e Iechidáh. Na medida que o nível é
mais espiritual, menor é a restrição da alma. As pessoas que têm todos os
níveis ativos durante o dia são os Profetas, através dos quais fala D’us;
aqueles que têm os quatro níveis ativos, podem ter visões proféticas; com os
três, sonhos, intuições e premonições.
A
alma pode ser comparada a um periscópio que vê tudo o que os olhos não podem
ver, e a pessoa dormida libera a alma do que o consciente não aceita. O Zohar
diz que quando a pessoa dorme, a alma se eleva e retorna à sua fonte; lá se
refresca e logo retorna para começar de novo cada dia com vigor e energia. É
realmente o corpo que deve descansar; a alma não vai dormir, faz o que lhe
corresponde no seu âmbito. Se a pessoa leva uma vida de santidade, uma vida
honesta e clara durante o dia, a alma sobe rapidamente e isto se reflete nos
sonhos positivos, agradáveis, significativos, quando se tem uma atitude
negativa ou de pessimismo, geralmente os sonhos têm a mesma natureza; a alma
fica então estancada num lugar entre a alma e o corpo e produz-se o que se
conhece com o nome de "pesadelo".
Quando estamos acordados, somos seres racionais, ativos,
realistas; ao dormir, passamos a um tipo de existência totalmente diferente;
podemos conceber coisas que nunca ocorreram, na realidade coisas sem
antecedentes. Algumas vezes somos os heróis, outras os vilões, em belos
cenários ou em cenas de terror. Mas a maioria dos sonhos compartem a
característica de não se limitarem às leis da lógica que governam nosso
pensamento consciente. Descuidam-se as categorias de tempo e espaço: pessoas
falecidas podem estar de repente vivas, acontecimentos que vemos como parte do
presente podem ter ocorrido há muitos anos. Também não se presta maior atenção
ao espaço. Podemos nos trasladar de um lugar a outro com rapidez, estar em dois
lugares ao mesmo tempo, fundir duas pessoas numa ou converter uma pessoa em
outra. Nos sonhos somos criadores de um mundo onde o tempo e o espaço que
limitam todas as atividades de nosso corpo, não têm nenhuma importância em
absoluto e, contudo, têm a característica de serem reais, tão vivos que nos
fazem questionar a realidade, com a desvantagem de que são rapidamente
esquecidos ao acordar.
A interpretação dos sonhos não pode ser feita em forma
homogênea. Embora os símbolos comuns e universais precisam ser considerados, é
necessário se basear nos fatores pessoais, pois símbolos iguais podem
significar coisas distintas para pessoas diferentes.
Exemplos de elementos
simbólicos nos sonhos.
Talmud: Tratado de Berachot
Rins ou
cabeça: se refere à pessoa que sonha
Ombros: à esposa
Braços: a amigos e familiares
Extremidades: aos
filhos
Burro: pode se esperar salvação
Uvas brancas na temporada ou fora da mesma: são um
bom sinal
Trigo: paz
Figueira: preservar o aprendido
Romã ou azeitonas:
prosperidade nos negócios
Galo: se espera um menino
Ovos: petição suspensa; se quebra, se cumpre (O mesmo
acontece com nozes, pepinos e coisas de vidro que podem quebrar).
Serpente: a vida está assegurada
Morte: longa vida
Todos os animais são bom sinal menos o macaco e
o elefante;
Todas as frutas menos as tâmaras não maduras;
Todas as cores, menos o azul.