O ANO JUDAICO, A VIDA JUDAICA
O ano judaico representa, esquematicamente, a vida e a essência do Judaísmo de todos os tempos.
É um mapa que nos indica quando e como os judeus se alegram, festejam e comemoram.
Conforme os talmudistas, os preceitos (mitzvot) que ordenam a vida judia são 613. Eles explicaram a presença deste número porque nele somam-se dois elementos:
- 248 - as partes do corpo;
- 365 - os dias do ano.
Todo o corpo, em todo o ano.
Todo o ser, em todos os dias.
O Judaísmo é, efetivamente, uma prática de vida na qual o excepcional (os dias que se destacam) não fazem mais do que confirmar o ordinário e o cotidiano.
Todos os dias temos que ser justos. Todos os dias temos que agradecer aos céus pela existência. Todos os dias temos que esperar e fazer alguma coisa por um mundo melhor, messiânico. Todos os dias cabe-nos buscar um remanso de paz interior e exterior. Todos os dias há que se liberar de ídolos e feitiçarias.
Os outros, os dias fora de série, iniciando semanalmente pelo Shabat, têm como função despertar a consciência frente ao não realizado, alertar o ânimo, aguçar os sentidos, afinar a sensibilidade.
O Judaísmo é uma teoria de educação, para que cheguemos a ser o que ainda não somos totalmente: humanos.
O ano judaico indica a guia efetiva, realizadora dessa concepção pedagógica: o que fazer quando te levantas, pela tarde, pela noite, no dia sem trabalho; na festa da liberdade.
Vejamos, ligeiramente, como é o ano judaico. Que fazem os judeus durante o ano?
Indiretamente, se delineará a imagem da vida em seus detalhes menores e maiores.
E, com ela, verás qual o lugar que ocupas.
NOSSO CALENDÁRIO
Através de ciclos periódicos, o ano judaico compreende uma média natural de 12 meses, 365 dias. Porém, não é bem assim, se toma cada período anual separadamente. Com efeito, a antiqüíssima tradição remonta épocas em que o passar do tempo se media de acordo com o ritmo da rotação lunar e esse segue sendo o eixo do sistema do nosso calendário. “Mês”, em hebraico se diz chôdesh: lua nova, ou yarêach: lua.
Mas, por outro lado, as festividades do povo estão ligadas, em princípio, nas estações do ano: primavera, outono, inverno e seus correlativos eventos agrícolas. Corresponde, pois, que Pêssach seja sempre na primavera, por exemplo. A tal efeito se retifica, de tempo em tempo, a contagem dos meses lunares, acrescentando um mês (o segundo Adar) para atingir esse equilíbrio (Com a repetição do mês de Adar temos anos de 13 meses).
Em 358 da E.C. foi Hilel II quem estabeleceu as regras de composição do almanaque do povo de Israel. Até então, requeria-se, mês a mês, a presença de testemunhas que tivessem visto a mudança da lua, ante o tribunal central. A partir destes testemunhos, o Sanhedrín (supremo corpo jurídico e legislativo), consagrava o dia de início do novo mês (alguns de 29; outros de 30 dias). Logo, saíam enviados para diferentes pontos da diáspora, para anunciar o predito. Os meios de comunicação não eram simples e as comunidades da diáspora - devido a demoras ou acidentes na recepção de mensagem, temiam ter dúvidas em relação ao exato dia em que haviam de celebrar as ordens da Toráh. Por isto acrescentou-se as festas de Pêssach, Shavuot, Sucot um segundo dia de santidade, chamado “segundo dia festivo para as diáspora”, a fim de evitar incertezas. É por isso que, por exemplo, enquanto em Israel se realiza apenas um sêder de Pêssach, na diáspora se realizam dois.
A conta dos anos chega, neste momento, a 5759. A tradição remonta a criação do mundo.
OS MESES DO ANO
São doze os meses do ano: seus nomes foram trazidos da Babilônia pelos exilados que retornaram à terra natal, Israel, no ano de 536 A.E.C.. O significado dos termos é relativamente obscuro e limitar-nos-emos a citá-los.
Tishrê, Marcheshvan, Kislev, Tevet,
Shevat, Adar, Nissan, Iyar,
Sivan, Tamuz, Av, Elul.
O começo do mês é rosh (cabeça, princípio) chôdesh, o qual considera-se data festiva. A origem deste ritual é bíblico. Reuniam-se no Templo, faziam-se oferendas a D’us, banquetes e cânticos. (Números X, 10)
A vigência atual deste costume tem relevância na liturgia da sinagoga. No sábado anterior ao rosh chôdesh, anuncia-se oficialmente quando este cairá, e diz-se:
“Que o renove D’us para nós e para todo o povo da casa de Israel, para a vida e paz, regozijo e alegria, salvação e consolo, e diremos amém.
OS DIAS DA SEMANA
A semana de sete dias foi consagrada pela Bíblia, no correspondente relato da Criação com o qual se inicia: em seis dias D’us fez o mundo, e o sétimo foi Shabat, ou seja, suspensão de trabalho.
O número “sete” reveste um particular caráter de santidade, de simbolismo místico que se refere à perfeição. O candelabro de sete braços o reflete.
O dia, cada dia da semana, ajuda num programa para a vida judaica, desde seu começo até seu declínio e entrega-a nas mãos do sonho.
Três ordens de orações dividem o dia:
- Shacharit (matutina)
- Mincháh (da tarde)
- Arvit (noturna)
O prescrito é participar da reza comunitária, o que requer não menos de um minián (dez pessoas) na sinagoga.
Este escalonamento do dia entre seções diz que o homem interrompa suas atividades, para elevar-se por cima das necessidades prementes do momento e colocar-se em plano superior, cósmico, histórico, nacional e religioso - este é o conteúdo que rege todas as orações.
Antes e depois de comer deve o homem realizar as bênçãos em agradecimento a D’us.
A benção depois da comida denomina-se Birkat Hamazon (Bênção pelo Alimento). Recordemos alguns fragmentos:
“Benditos sejas Tu, Oh Eterno, D’us nosso, Rei do universo, que alimenta o mundo inteiro com tua bondade, com graça, caridade, piedade; o que traz alimento a todos os viventes, porque eterna é Sua caridade, e com sua grande bondade, nunca nos faltou coisa alguma, e jamais nos faltará alimento, por seu grande nome, porque Ele é D’us que alimenta e sustenta a todos, e faz o bem a todos, e prepara alimento para todos os seres que criou”.