Shofar
É uma mitzvá da Torá ouvir o
toque do shofar em Rosh Hashaná. E há vários tipos de toque. O primeiro deles é
a Tequiá – um toque simples e contínuo, que representa alegria e conexão. Por
isso, quando se queria reunir o povo de Israel no êxodo pelo deserto, na saída
do Egito, faziam as trombetas tocarem uma Tequiá simples. A Teruá – um toque
fragmentado –, por sua vez, alude ao sofrimento, ao choro, à desagregação e ao
receio. De fato, ao sair para as guerras, sem saber como seria o desfecho da
batalha, as trombetas ressoavam a Teruá.
Shevarim – três sons interrompidos, como soluços; Teruá –
nove (ou mais) sons curtíssimos como suspiros entrecortados em prantos.
Esta dualidade contida na
Teruá permeia Rosh Hashaná. Por um lado, há um grande sofrimento pelo ano que
se foi e a constatação de que este tempo não se pode recuperar jamais. Daí a
enorme importância de não desperdiçar este bem precioso e curto com tolices sem
valor significativo – games ou aplicativos variados, por exemplo, com os quais
se pode “queimar” um tempo que se acumula em meses, com benefícios mínimos ou
nulos. Tempo valioso que não voltará e que poderia ter sido usado para
incontáveis objetivos mais produtivos: educação dos filhos, com demonstrações
concretas de amor e afeto; orações pelo sustento e o sucesso de si e de sua
família; recitação de Salmos para cura, saúde e disposição; estudo de Torá, que
proporciona uma recompensa espiritual incalculável para cada instante dedicado
ao mesmo. Por outro lado, há o receio e um grande medo do veredito celestial
próximo.
O shofar nos chama para acordarmos de nossa letargia
mental pelas coisas terrenas e clama para que possamos despertar e nos envolver
com as necessidades de nossa alma. É como um alerta: nos inspira temor
lembrando que este é o Dia de nosso julgamento. A mensagem do shofar, segundo
Maimônides, é:
"Acordai de vosso sono e ponderai sobre os vossos
feitos; lembrai-vos do Criador e voltai a Ele em penitência. Não sejais
daqueles que per-dem a realidade de vista ao perseguirem sombras ou esbanjam
anos buscando coisas vãs que não lhes trazem proveito. Olhai bem vossas almas e
considerai vossos atos; abandonai os caminhos errados e os maus pensamentos e
voltai a D'us, para que Ele tenha misericórdia para convosco!"
Esta é a função mais importante dos sons do shofar:
inspirar a alma e provocar vibrações extraordinárias no coração, ativando o
sentimento do arrependimento e humildade.
Por esse motivo, o
Todo-Poderoso ordenou que se tocasse a Teruá com o shofar e, ao recebermos
sobre nós o jugo do reinado divino universal, adocemos esse veredito e sejamos
carimbados para uma vida maravilhosa.