Um povo para ser destacado dentre as nações precisa conhecer sua
identidade, buscando profundamente suas raízes. Os povos formadores do tronco
racial do Brasil são perfeitamente conhecidos, como: o índio, o negro e o
branco,destacando o elemento português, nosso colonizador. Mas, quem foram
estes brancos portugueses? Pôr que eles vieram colonizar o Brasil? Viriam eles
atraídos só pelas riquezas e Maravilhas da terra Pau-Brasil? A grande verdade é
que muitos historiadores do Brasil colonial ocultaram uma casta étnica que
havia em Portugal denominada por cristãos novos, ou seja,os Judeus ! Pôr que?
(responder esta pergunta poderia ser objeto de um outro artigo). Em 1499, já
quase não havia mais judeus em Portugal, pois estes agora tinham uma outra
denominação: eram os cristãos novos. Eles eram proibidos de deixar o país, a
fim de não desmantelar a situação financeira e comercial daquela época, pois os
judeus eram prósperos.Os judeus sefarditas ou sefaradies, então, eram obrigados
a viver numa situação penosa, pois, por um lado, eram obrigados a confessara fé
cristã e por outro, seus bens eram espoliados, viviam humilhados e confinados
naquela país. Voltar para Espanha, de onde foram expulsos, era impossível, bem
como seguir em frente, tendo à vista o imenso oceano Atlântico. O milagre do
Mar Vermelho se abrindo, registrado no Livro de Êxodo, precisava acontecer
novamente.
Naquele momento de crise, perseguição e desespero, uma porta se
abriu: providência divina ou não, um corajoso português rasga o grande oceano
com sua esquadra e, em abril de 1500, o Brasil foi descoberto.
Na própria expedição de Pedro Álvares Cabral já aparecem alguns
judeus, dentre eles, Gaspar Lemos, Capitão-mor, que gozava de grande prestígio
com o Rei D. Manuel. Podemos imaginar que tamanha alegria regressou Gaspar
Lemos a Portugal, levando consigo esta boa nova: - descobria-se um paraíso, uma
terra cheia de rios e montanha, fauna e flora jamais vistas. Teria pensado
consigo: não seria ela uma “terra escolhida” para meus irmãos hebreus? Esta
imaginação começou a tornar-se realidade quando o judeu Fernando de Noronha,
primeiro arrendatário do Brasil, demanda trazer um grande número de mão de obra
para explorar seiscentas milhas da costa, construindo e guarnecendo fortalezas
na obrigação de pagar uma taxa de arrendamento à coroa portuguesa a partir do
terceiro ano. Assim, milhares e milhares de judeus fugindo da chamada “Santa
Inquisição” e das perseguições do “Santo Ofício” de Roma, começaram a colonizar
este país. Afinal, os judeus ibéricos, como qualquer outro judeu da diáspora,
procurava um lugar tranqüilo e seguro para ali se estabelecer, trabalhar, e
criar sua família dignamente. O tema é muito vasto e de grande riqueza
bibliográfica e histórica. Assim, queremos com esta matéria abordar
ligeiramente o referido tema, despertando, principalmente, o leitor interessado
que vive fora da comunidade judaica. Neste pequeno estudo, queremos mencionar a
influência judaica na formação da raça brasileira, apresentando apenas alguns
fatos históricos importantes ocorridos no Brasil colonial, destacando uma lista
de nomes de judeus portugueses e brasileiros que enfrentaram os julgamentos do
“Santo Ofício” no período da Inquisição.Os fatos históricos são muitos e podem
ser encontrados em vários livros que tratam com detalhes desse assunto, como já
mencionado.
Comecemos, então, apresentando um pequeno resumo da história dos
judeus estendendo até ao período do Brasil Colonial. Desde a época em que o Rei Nabucodonosor
conquistou Israel, os hebreus começaram a imigrar-se para a península ibérica.
A comunidade judaica na península cresceu ainda mais durante os séculos II e I
A.C. no período dos judeus Macabeus. Mais tarde, depois de Cristo, no ano 70, o
imperador Tito ordenou destruir Jerusalém, determinando a expulsão de todo
judeu de sua própria terra. A derrota final ocorreu com Bar Kochba no ano 135
d.C, já na diáspora propriamente dita. A história confirma a presença dos
judeus ibéricos, também denominados “sefaradim”, nessa península,no período dos
godos, como comprovam as leis góticas que já os discriminavam dos cristãos.
As relações judaico-cristãs começaram a agravar-se rapidamente
após a chegada a Portugal de 120.000 judeus fugitivos e expulsos pela
Inquisição Espanhola por meio do decreto dos Reis Fernando e
Isabel em 31.03.1492. Não demorou muito, a situação também se agravava em
Portugal com o casamento entre D. Manoel I e Isabel, princesa espanhola filha
dos reis católicos. Várias leis foram publicadas nessa época, destacando-se o
édito de expulsão de D. Manoel I. Mais de 190.000 judeus foram forçados a
confessar a fé católica, e após o batismo eram denominados “cristãos novos”,
quando mudavam também os seus nomes. Várias atrocidades foram cometidas contra
os judeus, que tinham seus bens confiscados, saqueados, sendo suas mulheres
prostituídas e atiradas às chamas das fogueiras e as crianças tinham seus
crânios esmagados dentro das próprias casas. O descobrimento do Brasil em 1500
veio a ensejar uma nova oportunidade para esse povo sofrido. Já em1503 milhares
de “cristãos novos” vieram para o Brasil auxiliar na colonização. Em 1531,
Portugal obteve de Roma a indicação de um Inquisidor Oficial para o Reino, e em
1540, Lisboa promulgou seu primeiro Auto de fé. Daí em diante o Brasil
passou a ser terra de exílio, para onde eram transportados todos os réus de
crimes comuns, bem como judaizantes,ou seja, aqueles que se diziam
aparentemente cristãos novos, porém, continuavam em secreto a professar a fé
judaica. E é nesses judaizantes portugueses que vieram para o Brasil nessa
época que queremos concentrar nossa atenção. De uma simples terra de exílio a
situação evoluiu e o Brasil passou a ser visto como colônia. Em 1591 um oficial
da Inquisição era designado para a Bahia, então capital do Brasil. Não demorou
muito, já em 1624, a
Santa Inquisição de Lisboa processava pela primeira vez contra 25 judaizantes
brasileiros (os nomes abaixo foram extraídos dos arquivos da Inquisição da
Torre do Tombo, em
Lisboa). Os nomes dos judaizantes e os números dos seus
respectivos dossiês foram extraídos do Livro: “Os Judeus no Brasil Colonial” de
Arnold Wiznitzer – página 35 – Pioneira Editora da Universidade de São Paulo:
Alcoforada, Ana 11618 - Antunes, Heitor 4309 -
Antunes, Beatriz 1276 -
Costa, Ana da 11116 - Dias, Manoel Espinosa 3508-Duarte,
Paula 3299 - Gonçalves, Diogo Laso 1273 - Favella, Catarina 2304 - Fernandes, Beatriz 4580 - Lopes, Diogo4503 - Franco, Lopes Matheus 3504 - Lopes, Guiomar 1273 - Maia,
Salvador da 3216 - Mendes, Henrique 4305 - Miranda,Antônio de 5002 - Nunes, João 12464 -
Rois, Ana 12142 - Souza, João Pereira de 16902 - Teixeira, Bento 5206 - Teixeira, Diogo 5724 -
Souza, Beatriz de 4273 - Souza, João Pereira de 16902 - Souza, Jorge de 2552 -
Ulhoa, André Lopes
5391.
Continuando nossa pesquisa, podemos citar outras dezenas e dezenas
de nomes e sobrenomes, devidamente documentados, cujas pessoas foram também
processadas a partir da data em que a Inquisição foi instalada aqui no Brasil. È importante
ressaltar que nesses processos os sobrenomes abaixo receberam a qualificação de
“judeus convictos” ou “judeus relapsos” em alguns casos. Por
questão de espaço citaremos apenas nesta primeira parte os sobrenomes, dispensando
os pré-nomes:
Abreu Álvares Azeredo Ayres - Affonseca Azevedo Affonso Aguiar -
Almeida Amaral Andrade Antunes -
Araújo Ávila Azeda Barboza - Barros Bastos Borges Bulhão -
Bicudo Cardozo Campos Cazado -
Chaves Costa Carvalho Castanheda - Castro Coelho Cordeiro
Carneiro - Carnide Castanho Corrêa Cunha - Diniz Duarte Delgado Dias -Esteves
Évora Febos Fernandes - Flores Franco Ferreira Figueira - Fonseca Freire Froes Furtado
- Freitas GalvãoGarcia Gonçalves - Guedes Gomes Gusmão Henriques - Izidro Jorge
Laguna Lassa - Leão Lemos Lopes Lucena -Luzaete Liz Lourenço Macedo - Machado Maldonado
Mascarenhas - Martins
Medina Mendes Mendonça Mesquita-Miranda Martins Moniz Monteiro - Moraes Morão Moreno Motta -
Munhoz Moura Nagera Navarro - Nogueira Neves Nunes Oliveira - Oróbio Oliva Paes
Paiva - Paredes Paz Pereira Perez - Pestana Pina Pinheiro Pinto - Pires Porto
Quaresma Quental - Ramos Rebello Rego Reis - Ribeiro Rios Rodrigues Rosa - Sá Sequeira
Serqueira Serra - SylvaSilveira Simões Siqueira - Soares Souza Tavares Telles -
Torrones Tovar Trigueiros Trindade - Valle Valença Vargas Vasques - Vaz Veiga
Vellez Vergueiro - Vieira Villela.
(A lista dos sobrenomes citados acima não exclui a possibilidade
da existência de outros sobrenomes portugueses de origem judaica. – Fonte:
Extraído do livro: “Raízes judaicas no Brasil” – Flávio Mendes de
Carvalho – Ed. Nova Arcádia 1992).
Todos esses judeus brasileiros, cujos sobrenomes estão citados
acima, foram julgados e condenados pela Inquisição de Lisboa, sendo que alguns
foram deportados para Portugal e queimados, como por exemplo o judeu Antônio
Felix de Miranda, que foi o primeiro judeu a ser deportado do Brasil Colônia.
Outros foram condenados a cárcere e hábito perpétuo.
Quando os judeus aqui chegavam, desembarcavam na maioria das vezes
na Bahia, por ser naquela época o principal porto. Acompanhando a história
dessas famílias, nota-se que grande parte delas se dirigia em direção ao sul,
muitas vezes fixando residência nos Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais.
Outros subiam em direção ao norte do país, destacando a preferência pelos
Estados de Pernambuco e Pará. Esses estados foram bastante influenciados por
uma série de costumes judaicos, que numa outra oportunidade gostaríamos de
abordar.
É importante ressaltar que não podemos afirmar que todo
brasileiro, cujo sobrenome constante desta lista acima seja necessariamente
descendente direto de judeus portugueses. Para saber-se ao certo necessitaria
uma pesquisa mais ampla, estudando a árvore genealógica das famílias, o que pode
ser feito com base nos registros disponíveis nos cartórios. Mas, com certeza, o
Brasil tem no seu sangue e nas suas raízes os traços marcantes deste povo muito
mais do que se imagina, quer na sua espiritualidade, religiosidade ou mesmo em
muitos costumes.
Constatamos que o Brasil já se destaca dentre outras nações como
uma nação que cresce rapidamente na direção de uma grande potência mundial. A
influência histórica judaica sefardita é inegável. Os traços físicos de nosso
povo, os costumes, hábitos e algumas tradições são marcas indubitáveis desta
herança. Mas, há uma outra grande herança de nosso povo, a fé. O brasileiro na
sua maioria pode ser caracterizado como um povo de fé, principalmente, quando
esta fé está fundamentada no conhecimento do D’us de Abraham, Isaac (Itschak) e
Jacó (Iahacov), ou seja, no único e soberano D’us de Israel.
Isto sim, tem sido o maior, o melhor e o mais nobre legado do povo
judeu ao povo brasileiro e à humanidade.