No verão de 1940, a França de Vichy concordou em
prender e extraditar para a Alemanha todos os que se opunham ao regime nazista
e que, nos anos anteriores à eclosão da Segunda Guerra Mundial, vindos de todas
as partes da Europa, haviam-se refugiado na França. A maioria dos refugiados
era composta por judeus, entre os quais artistas, intelectuais de renome e
cientistas – indivíduos especialmente vulneráveis por causa de sua
proeminência. Homens e mulheres que, durante a primeira metade do século XX,
fizeram da Europa o dínamo cultural do mundo.
Cientes do iminente perigo que essas pessoas corriam,
membros de uma organização privada americana decidiram que algo precisava ser
feito para salvá-los antes que fosse tarde demais. Sabiam que esconder-se era
praticamente impossível para tais personalidades e que, se não fossem salvas
rapidamente, eram enormes as chances de serem capturadas e deportadas da
França. Alguém precisava entrar em território francês, encontrar tais pessoas e
fazer o que fosse necessário para tirá-las da região.
Quem aceitou a tarefa, apesar de sua total
inexperiência, foi um jovem jornalista chamado Varian Fry. Formado em Letras
por Harvard, Fry não possuía treinamento na área militar ou de espionagem. Era
um jovem culto, conhecedor de vinho e de artes plásticas, editor de um jornal
em Nova York. Adorava ler poesias e observar os pássaros. Até desembarcar em
Marselha naquele verão de 1940, nada em sua vida poderia fazê-lo antever que se
tornaria herói.
Salvar judeus era uma missão de risco. Quando lhe
perguntaram por que o fez, por que fora à França, respondeu: “Porque os
refugiados precisavam de mim. Mas era preciso coragem e esta era uma qualidade
que, até então, eu não estava certo de possuir”. Menos ainda, Fry poderia
prever o impacto que suas ações teriam na cultura do pós-guerra, levando ao
deslocamento do centro cultural do mundo da Europa para os Estados Unidos, após
a Segunda Guerra.
Como
correspondente da The Living Age, ele visitou Berlim em 1935, onde ficou
impressionado com a dureza do regime nazista. De Marselha, ele liderou uma rede
de resgate.
A
rede de resgate de Vichy, recordando que em esse momento era chamada a França libre, liderada por o Marechal Pétain, o qual era o chefe de
estado da França de Vichy, entre 1940 a 1944.
Pela firma do armistício que assinou o Marechal Petain com a Alemanha
Nazi, a Franca devia entregar judeus, principalmente intelectuais, também membros
da resistência e pessoas que se desenvolvam dentro da cultura ou mundo da
intelectualidade.
Varian
Fry, consegueu que desde à França livre, resgatar uma imensa quantidade de
intelectuais, entre eles: Hannah Arendt, Marc Chagall, Lion Feuchtwanger, Otto
Meyerhof (Prêmio Nobel), Victor Serge, De Castro, Marcel Duchamp, Heinrich Mann,
Franz Werfel, Alma Mahler Gropius Werfel, entre muitos outros.
O
total da fuga oscila entre 2.000 a 4.000 membros da resistência e judeus e
intelectuais de outros paises, das garras da Alemanha nazista.
Infelizmente Fry passou
quase toda sua vida sem que suas ações fossem reconhecidas. Somente alguns
meses antes de sua morte a França o homenageou com a comenda da Legião de
Honra.
Seus méritos, no entanto,
ainda não haviam sido reconhecidos em seu próprio país. Isto aconteceu apenas
em 1996, quando o então Secretário de Estado norte-americano, Warren
Christopher, plantou uma árvore no Jardim dos Justos, no Museu do Holocausto
Yad Vashem, em Israel.
Varian Fry foi o primeiro e
único americano a ser agraciado com a medalha dos “Justos entre as Nações”, do
Yad Vashem.
Ainda em 1996, Warren
Christopher homenageou Fry durante a abertura de uma exposição no Congresso dos
EUA.
Em 1998, Fry foi
homenageado com o título de “Cidadania Comemorativa do Estado de Israel”, concedido
a alguns dos que foram condecorados com a medalha “Justos entre as Nações”.