Chanucá e
Milagres
Nós
judeus, acreditamos em milagres. Acreditar em milagres é algo natural para os
descendentes de um povo cuja própria existência tem sido um milagre continuo e
cujo renascimento das cinzas do Holocausto foi um dos milagres mais
espetaculares da história da humanidade. No entanto, só de milagres não se vive.
Chaim Weizmann, o primeiro presidente de Israel e uma das pessoas que mais
contribuiu para o renascimento do Estado, disse com profundo conhecimento de
causa: “Milagres as vezes acontecem, mas é preciso esforçar-se muito para que
aconteçam.” Weizmann estava nos alertando ao perigo de acreditar demais em
milagres, depender tanto deles a ponto de esquecer que existe um enorme
componente humano na ocorrência de um milagre.
Chanucá, que inicia-se na sexta-feira, 3 de
dezembro, ilustra dramaticamente esta verdade. A milagrosa vitória dos Macabeus
contra um exército sírio muito mais forte em numero e poder militar, jamais
teria sido possível se não fosse a inabalável dedicação daqueles heróis judeus
a sua herança e sua fé, se não fosse sua firme determinação de resistir à
assimilação e combater a influência helenística ao seu redor.
Sim, milagres às vezes acontecem.
Mas é preciso esforçar-se muito para que
aconteçam!
Este é um fato que merece reflexão.
Muitos dizem que não acreditam em milagres.
No entanto, suas atitudes – ou a falta delas – indicam que eles acreditam
demasiadamente em milagres. Tais pessoas esperam que as coisas boas aconteçam
sem nenhum esforço da sua parte: sem trabalhar, sem sacrificar seu conforto ou
seu lazer ou seu prazer, simplesmente aguardando que os milagres caiam do céu.
Meus amigos: não podemos depender de
milagres. Se queremos que nossos filhos assumam plenamente sua identidade
judaica, orgulhando-se do seu passado e comprometendo-se para com o futuro,
façamos alguma coisa para que este desejo se realize. Se queremos que o lar
judaico cumpra seu papel histórico, moldando valores judaicos e transmitindo
ensinamentos judaicos, façamos alguma coisa para que este desejo se realize. Se
queremos que a palavra “judeu” seja sinônimo de honestidade, integridade e
generosidade, façamos alguma coisa para que este desejo se realize. Se queremos
que a sobrevivência criativa do judaísmo seja uma realidade contínua através das
gerações, façamos alguma coisa para que este desejo se realize.
O milagre que celebramos em Chanucá não é
apenas a vitória dos Macabeus, nem somente a pequena latinha de óleo que durou
muito mais do que se esperava. O fato de ainda estarmos celebrando Chanucá mais
de 2 mil anos depois – este é o verdadeiro milagre.
Mas este milagre não aconteceu por obra e
graça de judeus indiferentes. Em cada geração, o milagre foi renovado pela
dedicação, devoção e abnegação de homens e mulheres que se importaram suficientemente
para dar o melhor de si.