sábado, julho 03, 2010

CABALÁH:O SEGREDO DOS SONHOS

CABALÁH:
O SEGREDO DOS SONHOS

Não é muito difícil afirmar que cada pessoa sonha, ou que alguma vez sonhou. Ao despertar de um sonho agradável ou de um pesadelo, é natural que surjam uma série de interrogantes e o impulso lógico é buscar respostas no campo secular, sem pensar que a Toráh, que contempla cada aspecto da vida, desde o mais significativo ao mais mundano, nos proporciona um acúmulo de informação que serve de guia e tem a virtude de ser verídica. É surpreendente a quantidade de referências que existem, além da Toráh, no Talmud, no Midrash, na Hagadáh, as obras filosóficas, nos códigos de leis judaicas e especialmente nos escritos místicos da Cabaláh e da Chassidut.

Os sonhos têm uma vida tão longa quanto a do ser humano. Alguns dos sonhos relatados na Bíblia têm caráter profético. O Talmud afirma que os sonhos contêm importantes predições e Maimônides assevera que muitos profetas viram suas profecias em sonho.

O primeiro sonho profecia, o teve o Patriarca Avraham, quando fez o Pacto com D’us e Este lhe assegurou que seria pai de um povo números. Neste momento ele ficou adormecido e, em sonhos, ouviu a voz de D’us, o Qual predisse o futuro de sua descendência, seus sofrimentos no desterro e sua recompensa. O segundo sonho profético o teve o Patriarca Iahacov, quando fugia do seu irmão Essav e viu a escada que chegava até o céu, pela qual ascendiam e descendiam anjos. D’us lhe falou de cima da mesma, prometeu-lhe proteção e fecundidade e assegurou-lhe que esta terra pertencia à sua descendência. O terceiro sonho profético é o de Iossef, o dos feixes no campo, o sol, a lua e onze estrelas que se inclinam diante dele. Logo se relata a explicação que Iossef deu aos sonhos do copeiro e do padeiro do Faraó, bem como a interpretação dos sonhos do próprio faraó, que se cumpriram com os sete anos de abundância e os sete anos de seca e fome.

As fontes bíblicas e Rabínicas distinguem entre os sonhos proféticos e os chamados sonhos normais, que podem expressar aspectos pessoais cuja importância depende não só da compreensão de quem os sonhou, mas da perspectiva objetiva que outro lhe possa acrescentar. Os sonhos podem conter uma mensagem ou ser a expressão da configuração dos pensamentos que a pessoa armazenou.

O ponto crítico é que os Sábios do Talmud consideram que as pessoas não sonham para satisfazer um desejo - seja este de ordem sexual, como o postula Freud, de poder, segundo Gustav Adler, ou de uma inspiração cósmica e transcendental, como o afirma Carl Jung. Muito mais que isso, eles vêm os sonhos como expressão de toda uma ampla gama de idéias que vai desde acontecimentos quotidianos, não assimilados, até o mais profundo simbolismo; desde desejos irracionais à racionalidade; da moralidade à sabedoria inconsciente - uma função muito importante do processo mental que, eles supõem, pode ser potencial para inspiração divina.

Outra característica comum dos sonhos é a linguagem simbólica, aquela na qual as experiências, sentimentos e pensamentos são expressos como se fossem vivências sensoriais ou eventos do mundo real.

É uma linguagem com uma lógica diferente à que temos quando estamos despertos, está governada por intensidade e associação em vez de por tempo e espaço; é universal, e a raça humana a desenvolveu em forma constante.

O Talmud fala da necessidade de interpretar os sonhos; um sonho mau pode transformar-se em um bom, o que se chama "melhorar o sonho", pois ao se interpretar para o bem, o bom se cumprirá, sendo certo também o contrário. Os reis de outrora contavam entre seus assessores com pessoas com a habilidade na interpretação dos sonhos; houve sábios judeus que se dedicaram a esta disciplina e no Talmud se fala de 24 especialistas neste assunto que residiam em Jerusalém e eram generosamente retribuídos por seu ofício.

Sonho e exílio

O tempo do exílio do povo de Israel, a Galut, foi comparada com um sonho, pois está escrito nos Salmos 126:1: "Quando D’us fizer retornar os exilados de Sion, será como se houvéssemos sonhado". Como se viu, num sonho podem coexistir os opostos, os paradoxos, as contradições, como o ladrão que pede a D’us ajuda para obter êxito na sua faina; ou como o homem que enquanto está rezando se sente próximo de D’us mas que logo da prioridade às necessidades do corpo e aos prazeres mundanos.

Em termos macrocósmicos, o mundo se considera dormindo, incapaz de reconhecer a Divindade que o permeia; só percebe o tangível, a realidade física, e considera a espiritual um mito, já que esta não está revelada. Este estado de sonho, para o mundo em geral e para os judeus em particular, só persistirá até a chegada de Mashiach. Neste momento, o mundo se aperfeiçoará e a Divindade ficará a descoberto. A revelação Divina, como a luz da manhã, despertará os dormidos filhos de Israel. Assim como a luz do dia segue à escuridão da noite, do mesmo modo a luz revelada virá depois da escuridão do exílio; será o fim das contradições, o final do sonho; a mudança total de um momento a outro, o despertar do mundo para uma nova era.

O ponto de vista místico

Considera-se que quando a pessoa dorme, sua alma se libera das limitações e vínculos que o corpo lhe impõe na vida diária. A alma tem cinco níveis: Nefesh, que é o impulso vital; Ruach, que nos permite funcionar; Neshamáh, Chaiáh e Iechidáh. Na medida que o nível é mais espiritual, menor é a restrição da alma. As pessoas que têm todos os níveis ativos durante o dia são os Profetas, através dos quais fala D’us; aqueles que têm os quatro níveis ativos, podem ter visões proféticas; com os três, sonhos, intuições e premonições.

A alma pode ser comparada a um periscópio que vê tudo o que os olhos não podem ver, e a pessoa dormida libera a alma do que o consciente não aceita. O Zohar diz que quando a pessoa dorme, a alma se eleva e retorna à sua fonte; lá se refresca e logo retorna para começar de novo cada dia com vigor e energia. É realmente o corpo que deve descansar; a alma não vai dormir, faz o que lhe corresponde no seu âmbito. Se a pessoa leva uma vida de santidade, uma vida honesta e clara durante o dia, a alma sobe rapidamente e isto se reflete nos sonhos positivos, agradáveis, significativos, Quando se tem uma atitude negativa ou de pessimismo, geralmente os sonhos têm a mesma natureza; a alma fica então estancada num lugar entre a alma e o corpo e produz-se o que se conhece com o nome de "pesadelo".

Quando estamos acordados, somos seres racionais, ativos, realistas; ao dormir, passamos a um tipo de existência totalmente diferente; podemos conceber coisas que nunca ocorreram, na realidade coisas sem antecedentes. Algumas vezes somos os heróis, outras os vilões, em belos cenários ou em cenas de terror. Mas a maioria dos sonhos compartem a característica de não se limitarem às leis da lógica que governam nosso pensamento consciente. Descuidam-se as categorias de tempo e espaço: pessoas falecidas podem estar de repente vivas, acontecimentos que vemos como parte do presente podem ter ocorrido há muitos anos. Também não se presta maior atenção ao espaço. Podemos nos trasladar de um lugar a outro com rapidez, estar em dois lugares ao mesmo tempo, fundir duas pessoas numa ou converter uma pessoa em outra. Nos sonhos somos criadores de um mundo onde o tempo e o espaço que limitam todas as atividades de nosso corpo, não têm nenhum importância em absoluto e, contudo, têm a característica de serem reais, tão vivos que nos fazem questionar a realidade, com a desvantagem de que são rapidamente esquecidos ao acordar.

A interpretação dos sonhos não pode ser feita em forma homogênea. Embora os símbolos comuns e universais precisam ser considerados, é necessário se basear nos fatores pessoais, pois símbolos iguais podem significar coisas distintas para pessoas diferentes.

Exemplos de elementos simbólicos nos sonhos.

Fontes:

Talmud Babilônico, Tratado de Berachot

Rins ou cabeça: se refere à pessoa que sonha

Ombros: à esposa

Braços: a amigos e familiares

Extremidades: aos filhos

Burro: pode se esperar salvação

Uvas brancas na temporada ou fora da mesma: são um bom sinal

Trigo: paz

Figueira: preservar o aprendido

Romã ou azeitonas: prosperidade nos negócios

Galo: se espera um menino

Ovos: petição suspensa; se quebra, se cumpre (O mesmo acontece com nozes, pepinos e coisas de vidro que podem quebrar).

Serpente: a vida está assegurada

Morte: longa vida

Todos os animais são bom sinal menos o macaco e o elefante;

Todas as frutas menos as tâmaras não maduras;

Todas as cores, menos o azul.