terça-feira, março 27, 2018

Pêssach 5778: 3ª Entrega de Leis Fundamentais


Kitniot (leguminosas)

O chamêts que a Toráh proibiu é aquele proveniente das cinco espécies de cereais (trigo, cevada, aveia, centeio e espelta), mas no Talmud é trazida a opinião de Rabi Yochanan, que determina que o arroz deve ser considerado como mais uma variação das cinco espécies e que também a sua fermentação a Torá proibiu. No entanto, os demais sábios discordam dele e permitem comê-lo em Pêssach. Há cerca de 700 anos, as comunidades ashkenazim começaram a adotar maior rigor e não mais comer kitniot (leguminosas) em Pêssach.
Os principais motivos para esse costume foram: 1. Pelo fato de se fazer farinha de algumas dessas espécies; isso gerou o receio de que as pessoas viessem a assar também massas de farinha das cinco espécies em Pêssach, sem o cuidado com a fermentação. 2. Ou pela similaridade entre os cereais e as leguminosas, já que ambos são granulados e armazenados por longos períodos, causando o receio de que sejam misturados entre si. Assim, o costume dos ashkenazim até hoje é proibir o consumo de kitniot na festa de Pêssach.
Embora o costume dos sefaradim seja comer kitniot na festa de Pêssach, eles devem tomar o cuidado de verificá-los muito bem antes do consumo para certificar que não se misturaram com os cinco cereais. Hoje em dia, porém, muitos sefaradim (principalmente os marroquinos) são rigorosos e não comem arroz em Pêssach, por causa de um episódio em que foram encontrados resíduos de trigo no arroz. Portanto, os que são lenientes e costumam comê-lo devem verificá-lo três vezes antes de consumi-lo. Em todo e qualquer caso de dúvida haláchica sobre como proceder, deve-se consultar um Rav possek (rabino legislador) especialista nessas halachot. 
Nos casos de casais em que um dos cônjuges descende de uma família que não costuma comer kitniot e o segundo costuma comê-los, a esposa deve seguir os costumes do seu marido. No caso de uma ashkenazia casada com um sefaradi, a partir do casamento consumado, a esposa pode passar a comer kitniot em Pêssach e, de acordo com algumas opiniões rabínicas, deve fazer hatarat nedarim (anulação de votos, juras, promessas e obrigações em geral), pelo fato de estar modificando um de seus costumes ancestrais estabelecidos.
A seguir, listaremos algumas variedades de kitniot (leguminosas): arroz, ervilha, houmus, mostarda, lentilha, feijão, milho, gergelim, flocos de milho (corn flakes). Com relação ao amendoim, há divergências rabínicas, e quem não tem neste caso um costume definido pode ser leniente. É costume ser rigoroso com relação ao óleo de soja, em termos da proibição de kitniot.
Amêndoas, nozes, pistache não são kitniot. Da mesma forma, fécula de batata não se inclui na proibição de kitniot e é permitido consumi-la, até mesmo para os ashkenazim. O costume difundido é ser leniente com relação ao óleo de algodão, que também não se inclui na proibição de kitniot. 
Quem costuma seguir a proibição de consumo de kitniot pode comer e cozinhar em utensílios de quem não segue esta proibição, com a condição de que tenham passado 24 horas desde a última utilização deste utensílio para cozinhar kitniot. Bediavad (post factum), se um alimento foi cozido neste utensílio (usado para kitniot) antes das 24 horas citadas, este alimento é kasher. Quando há necessidade, para crianças ou doentes, mesmo que não corram qualquer risco, é possível ser leniente e dar-lhes de comer kitniot. Entretanto, deve-se separar utensílios especiais para esta função e, certamente, examinar e verificar bastante as espécies de kitniot, antes de lhes dar para comer.

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Utensílios de Pêssach

O mais aconselhável é utilizar utensílios exclusivos para Pêssach ou novos, durante toda a festa de Pêssach. Isto porque as leis de kashrut de Pêssach são complexas e cheias de pequenos detalhes.
O princípio básico determinante é que, embora sejam rígidas e vedadas, as paredes dos utensílios absorvem parte do sabor do alimento cozido nas mesmas e, desta forma, um utensílio no qual se cozinhou chamêts ("utensílio de chamêts") possui sabor de chamêts absorvido em seu material e é terminantemente proibido utilizá-lo em Pêssach. Se, por engano, em Pêssach, se cozinhou em um utensílio de chamêts – caso tenham passado 24 horas desde o último cozimento do chamêts –, de acordo com o costume dos sefaradim, é possível ser leniente e consumir o alimento. Para os ashkenazim, no entanto, o alimento é proibido ao consumo.
A principal regra nas Halachot de "kasherização" dos utensílios em Pêssach é o conceito "conforme o absorve, assim o expele", isto é, da maneira por meio da qual o sabor dos alimentos é absorvido por um utensílio, assim também pode ser expelido pelo mesmo. No caso de um sabor que tenha sido absorvido por meio de água fervente, como uma panela na qual se tenha cozinhado uma sopa que contém chamêts, deve-se imergir o utensílio em água fervente – em ebulição; desta forma, o sabor do chamêts é expelido do mesmo.
Esse método de kasherização chama-se "hagalá". Entretanto, no caso de um utensílio que tenha absorvido o sabor do alimento por meio do calor do fogo, sem líquidos, por exemplo, uma forma na qual se assou um bolo, para que se consiga expelir o sabor de chamêts, é necessário aplicar fogo sobre o mesmo - com um maçarico, por exemplo, até que saiam dele faíscas. Esse método é chamado de "libun".
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"Kasherização" dos utensílios para Pêssach


É importante enfatizar que, antes da "hagalá" (esterilização com água fervente) dos utensílios, deve-se evitar o uso dos mesmos por 24 horas. Da mesma forma, deve-se limpar muito bem o utensílio que vai passar pela hagalá de todo e qualquer resíduo de alimentos aderentes ao mesmo. Entretanto, antes do "libun" (esterilização incandescente – com fogo de maçarico), não é necessário limpar tão bem os utensílios, já que o fogo queimará quaisquer resquícios de alimento grudados em suas paredes. As alças e cabos dos utensílios também devem ser "kasherizadas", e quando são presas aos mesmos por meio de parafusos, deve-se desmontá-las antes da hagalá, para limpeza. Muitos costumam ser rigorosos, lavando os utensílios em água fria após a sua hagalá.
No caso da frigideira, já que o seu uso comum é fritar com um pouco de óleo, a kasherização deve ser por meio de libun. No caso de uma frigideira de teflon, no entanto, na qual é possível fritar sem óleo, não se pode kasherizá-la para Pêssach, já que ela seria danificada pelo libun. Da mesma forma, é proibido kasherizar para Pêssach formas de bolo caseiras, que podem ser danificadas por causa do libun. Deve-se comprar formas novas.
Quanto aos utensílios de vidro, o costume dos sefaradim é lavá-los bastante e usá-los sem qualquer kasherização especial para Pêssach. Pelo rito ashkenazi, costuma-se não kasherizá-los para Pêssach, e, num momento de extrema necessidade, é permitido ser leniente e kasherizá-los por meio de hagalá (em água fervente), por três vezes. Utensílios simples de plástico flexível não devem ser kasherizados para Pêssach, e, se forem feitos de plástico rígido, devem ser kasherizados por hagalá. É proibido kasherizar para Pêssach utensílios de cerâmica e porcelana. O copo de Kidush deve ser kasherizado também por meio de hagalá.

Pêssach Kasher Vessamêach

Pêssach 5778: 2ª entrega de Leis fundamentais



O famoso: Produto "Kasher LePêssach"

O RaMá (Rabino Moshe Isserlis, Cracóvia, 1520 - 1572), cujas decisões rabínicas são seguidas pelos ashkenazim, escreveu que o costume para os mesmos é ser rigorosos em Pêssach, a princípio, e não comer produtos que não tenham sido supervisionados especialmente em sua fabricação antes de Pêssach. A causa é o receio causado pelo fato do chamêts estar bastante presente entre nós, e não ser comum tomar cuidado com o mesmo durante o ano todo. Há também o receio de que se tenha utilizado, na fabricação dos alimentos, utensílios que contenham "gosto" de chamêts absorvido em suas paredes.
O Shulchan Aruch (Autor o Rabino Yosef Caro, Tsfat, 1488 - 1575), cujas decisões rabínicas são seguidas pelos sefaradim, escreveu que se deve ser leniente, pois enquanto não se tem suspeitas fortes e embasadas de que o chamêts tenha se misturado aos alimentos, não se deve recear. A maioria dos selos de kashrut de qualidade, em todo o mundo, costuma ser rigorosa como o RaMá e certificam os produtos com "Kasher Lepêssach" somente quando são tomados cuidados especiais na preparação dos alimentos para Pêssach.
E assim á a lei para o leite, para a carne bovina e para as aves, que são preparados e vendidos para Pêssach, ou seja, também estes produtos devem possuir carimbos de kashrut especiais para Pêssach, atestando que foram supervisionados para evitar contato dos mesmos com chamêts, desde a ordenha e o abate até a embalagem.
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Remédios em Pêssach


Na composição de alguns remédios há amido de trigo. Sua função é endurecer e solidificar o remédio. Todos os poskim (rabinos legisladores) concordam que, quando se trata de um doente em estado grave, e o médico receitou que este tome um remédio que é ou contém chamêtz, é mitzvá obedecer às ordens médicas, já que a proibição de que se corra risco de vida se sobrepõe à proibição de comer chamêtz em Pêssach. A dúvida emerge quando se trata de um doente sem gravidade.
Se o remédio para este doente possui sabor agradável, é obrigatório verificar e examinar a kashrut deste para Pêssach e, se não for kasher, é proibido tomá-lo.
No caso do gosto do remédio ser amargo, já que o amido de trigo está misturado a outras substâncias que danificaram o seu sabor, é permitido tomar este remédio em Pêssach. Há, no entanto, poskim que alegam que, como o doente citado está interessado no remédio, este é importante para ele e não se considera que o medicamento tenha sido corrompido em termos do consumo, sendo assim proibido tomá-lo em Pêssach. Portanto, no caso de necessidade, deve-se consultar um rabino especialista nas halachot sobre como proceder.
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Produtos de Higiene em Pêssach

Em determinados produtos, como sabonetes, shampoos e cremes diversos, o álcool de trigo – ou demais substâncias, cuja origem é chamêts – é acrescido à composição. Este é um assunto complexo na Halachá (Lei Judaica) que gera divergências entre os poskim (rabinos legisladores), ou seja, se a unção do corpo com tais sabonetes, pastas ou similares seria equivalente a bebê-los ou não. A seguir, um resumo das Halachot na prática, no tocante a este assunto:
1. Com relação a pastas de dente, é obrigatório ser rigoroso quanto à kashrut especial para Pêssach das mesmas, pois elas têm sabor agradável.
2. É permitido ser leniente com relação aos cremes e sabonetes para lavagem corporal ou perfumes, que em geral contêm álcool, não exigindo kashrut especial para Pêssach, porque são impróprios para consumo como alimento, embora haja muitos que costumam ser rigorosos e só comprar sabonetes e cremes “Kasher LePêssach”.
3. Produtos de limpeza doméstica, para a casa ou para as roupas (graxa para sapatos, por exemplo), não precisam de qualquer supervisão, pois seus gostos são desagradáveis e são totalmente impróprios como alimento.
4. Batons, a princípio, precisam ter kashrut para Pêssach.
5. Maquiagem e demaquilantes não precisam de kashrut para Pêssach, mas deve-se cuidar para que não sejam aplicados sobre os lábios.