domingo, fevereiro 06, 2011

A Visão Judaica da Morte

A vida depois da vida

El espigon

A morte é uma noite entre dois dias. O corpo, irremediavelmente, morre. Regressa à terra da qual surgiu. Porém a alma humana sobrevive ao sepulcro e permanece existindo, ainda que de uma forma totalmente diferente da terrena. Na realidade, o ser humano atravessa três etapas diferentes de existência. Cada uma superior em relação à que a precedeu. É impossível conceber a etapa a seguir, mas podemos saber a respeito da anterior.

A primeira etapa é o mundo intrauterino: o ventre materno, no qual ocorre a preparação física da vida que virá depois. Muitos elementos e sistemas orgânicos vitais neste mundo em que vivemos são inúteis nessa etapa, como a existência de uma boca, de um par de olhos ou de um nariz. Trata-se claramente de preparativos para uma nova vida.

Passados nove meses, ao iniciarem-se as primeiras contrações, sentimos que algo está chegando ao fim. No momento do nascimento, passamos por um processo tão traumático quanto a morte. De certa forma, finalizamos uma etapa e iniciamos outra. Lentamente, começamos a perceber que não estamos mortos, senão que temos acesso a uma nova dimensão, fascinante, cheia de luz, sons e sensações, muito superior à anterior. Uma existência infinitamente mais significativa.

Algo muito similar sucede com a vida presente em relação à futura. Aqui nos preparamos espiritualmente para a vida que vem a seguir. Desenvolvemos, também, faculdades aparentemente supérfluas.

O homem, durante oito ou nove décadas de sua vida, pensa, reflete, descobre, cria, sonha. Sua natureza o inclina a procurar certos valores éticos e espirituais. A fazer o bem, a indagar a respeito do significado de seu ser, a procurar o seu Criador. Com o correr dos anos, o homem cresce em sabedoria. Tudo aponta para uma continuidade. Se se tratasse apenas da mera existência biológica, o ser humano não necessitaria mais do que precisam os animais para viver.

Ao morrer, também nascemos para um mundo totalmente diferente. Dessa vez, trata-se de uma fase definitiva. Essa última dimensão da existência humana é denominada Olam Habáh pelos nossos sábios (da literatura rabínica, chamados de chachamim), ou seja, o mundo por vir: a vida depois desta vida.

Devemos falar de Toráh, porem não é Lei é Ensinamento

O valor da educação,

da Continuidade

JewQuarter300

“O saber não é o objetivo em si do estudo, mas um meio para chegar a Vontade Superior, a vontade e o desejo de dar e beneficiar o coração do homem. Isto é o que mede o nível espiritual do homem. Isto é tudo o homem.”

Muitas das expressões que sabemos utilizar quando nos referimos em assuntos tais como judaísmo e espiritualidade têm chegado através de traduções e possuem uma carga subjetiva quanto ao seu significado e objetivos. Isto tem afetado não só àqueles que se aproximam da sabedoria de Israel, através de textos traduzidos, a não ser que tenham chegado mais profundamente ainda que deformando a nossa percepção de judaísmo. Em outras palavras: temos nos acostumado a evoluir e interpretar a sabedoria de Israel de acordo os parâmetros distanciados da nossa própria tradição assuntos tão familiares como “Religião”, “D’us” e “Alma”, a partir das discordâncias surgem as discussões entre os defensores da “Religião” e os chamados “Leigos”, são conceitos diferenciados sobre o judaísmo. Tais conceitos se transformam em traduções simplistas e errôneas que vem dividindo os homens e criam confusões em nosso mundo espiritual.

O vocábulo religião provém do latim “religare”, quer dizer: voltar a ligar aquilo que foi desconcertado. Este conceito não aparece nos textos de tradição hebraica nem na nossa tradição oral até a Idade Média. Neste período os sábios judeus sentiram-se pressionados a tomar parte em confrontos verbais com o fim de demonstrar a validez da espiritualidade do povo de Israel.

A raiz desses sábios tais como o Rabino, Médico e Poeta. Iehudáh Halevi (1075 - 1141), em seu livro “O Cuzari” e Maimonides (Rambam) Século XII e XIII, especificamente em seu livro “Guia dos Perplexos”, viram-se forçados a declarar que a Toráh de Israel é também uma “Religião” organizada em bases lógicas e estrutura desenvolvida. Para isso recorreram ao vocábulo DAHAT que significa NORMA, INSTITUIÇÃO e INICIAÇÃO.

O judaísmo consiste na iniciação de um povo eterno nas normas (Mitsvot = preceitos) que o aproximam gradualmente à santidade.

Estas normas constituem as leis objetivas a partir das quais são o núcleo principal da Santidade da Divina Presença e a Sua Criação e que codificados nos são transmitidas através da Toráh.

A palavra “Religião” não é própria para o judaísmo, posto que confunde e leva a interpretá-la em base a doutrinas estranhas.

O conceito “Religião” implica ao fato de voltar a ligar duas ou mais coisas separadas. No judaísmo o conceito primordial é “luz”. A “luz” na qual o povo de Israel iluminou constantemente a humanidade.

A luz de Chanucáh que não somente foi o triunfo da luz dos valores morais sobre a escuridão corrupta pagã da cultura helenistica.

Também é o triunfo da educação, já que a palavra Chanucáh tem sua raiz no termo chinuch - educação. O Purim[1] e a Chanucáh[2], representam a luz dos jovens que brilham como um cometa que se expande iluminando o negro universo do qual estamos imersos.

As duas festividades têm um ponto em comum que é a educação, que é a pedra fundamental para evitar a assimilação e perda de valores, já que Ester uma jovem de 15 anos tinha seus embasamentos firmados, pois ela sabia que antes de ser rainha era uma mulher judia, e como tal se dedicava a seu povo. Iehudáh Hamacabi (líder da revolta dos Macabeus) estava internalizado em uma força espiritual tão grande que foi uma luz para seus seguidores iluminando os objetivos a cumprir.

Judaísmo não é “religião” é a luz que nos une a uma cadeia milenar chamada judaísmo e nos leva a um só objetivo: CONTINUIDADE.


[1] Purím figura na Bíblia, no livro de Ester. Nesse texto não aparece o nome de D’us, talvez porque trate de uma época e um lugar na diáspora onde D’us estava bastante esquecido pelos homens que optaram a favor da assimilação. A ação da história transcorre em terras do Oriente, Pérsia e arredores, de cores exageradas e em um tempo e com personagens que não permitem uma identificação clara.

Esta é a história - sempre verdadeira, sempre precisa - do anti-semitismo ou judeufobia. Aí aparece o primeiro grande teorizador do ódio ao judeu - Haman - ministro do estranho e torpe rei Achashverosh (Rei Asuero), que aconselha seu amo a exterminar os filhos de Israel, pelo simples fato de serem diferentes, de diferentes costumes e convenções. O rei é ridicularizado, pois somente um assunto causa-lhe obsessão, despedir mulheres, pegar mulheres novas e, por isso, está disposto a firmar qualquer decreto. Entra na cena Ester, da estirpe Hebraica, enviada por seu tio Mordechai, namora o rei e logo consegue salvar ao povo judeu e eliminar a Haman. Purím significa “sorte”. Deu-se à sorte a data em que os judeus deviam ser exterminados. (Era o único, a respeito do qual - ironicamente se sugere - duvidávamos da data. A respeito da matança em si não havia dúvidas nem vacilação alguma). A sorte caiu sobre o 14 de Adar.

[2] É o 25 de Kislev. Seu motivo histórico remonta os tempos de domínio grego no Oriente médio, entre elas, a terra de Israel.

No ano 162 a.e.c. a repressão dos governadores gregos chegava no seu cúmulo. Os gregos pretendiam helenizar a todo o mundo e não toleravam a teimosia dos judeus fiéis a sua religião e costumes. Proibiram, então, que se cumprissem as normas da Toráh de Moisés. Desta maneira, entendiam que podiam apagar a identidade judaica.

Porém, havia um punhado de patriotas que de modo algum cediam e que, encabeçados por Matatiahu o Chashmonai, da Galiléia, iniciaram a rebelião contra os gregos. Entre os filhos de Matatiahu, supremo sacerdote daquela época, destacou-se Iehudáh, o Macabeu. Em dura e sangrenta luta, esses crentes no D’us Único alcançaram o ideal da autonomia, de serem eles mesmos, de expulsar o invasor que havia profanado o Templo e colocado nele suas vãs deuses. Quando reconquistaram o Templo, o purificaram e encontraram em um canto um pequeno recipiente com azeite para os candeeiros da Menoráh (candelabro de sete braços).

Reinauguraram (Chanucáh: reinauguração), então, o culto de Israel, acendendo a Menoráh. Foi por um milagre que esse azeite manteve acesa a chama durante oito dias. Chanucáh se comemora, então, durante oito dias. Na festa, acende-se diariamente um candelabro de oito braços (Chanukiáh), para lembrar a façanha daqueles homens que souberam preservar a sua identidade ao custo de fé e de coragem. A façanha dos Macabeus tem sido, em todas as gerações, uma ardente chama que guiou aos judeus até a façanha do renascimento de Israel: o Sionismo.