terça-feira, setembro 27, 2016

O Shofar: Sua Mensagem



Shofar


É uma mitzvá da Torá ouvir o toque do shofar em Rosh Hashaná. E há vários tipos de toque. O primeiro deles é a Tequiá – um toque simples e contínuo, que representa alegria e conexão. Por isso, quando se queria reunir o povo de Israel no êxodo pelo deserto, na saída do Egito, faziam as trombetas tocarem uma Tequiá simples. A Teruá – um toque fragmentado –, por sua vez, alude ao sofrimento, ao choro, à desagregação e ao receio. De fato, ao sair para as guerras, sem saber como seria o desfecho da batalha, as trombetas ressoavam a Teruá.
Shevarim – três sons interrompidos, como soluços; Teruá – nove (ou mais) sons curtíssimos como suspiros entrecortados em prantos.
Esta dualidade contida na Teruá permeia Rosh Hashaná. Por um lado, há um grande sofrimento pelo ano que se foi e a constatação de que este tempo não se pode recuperar jamais. Daí a enorme importância de não desperdiçar este bem precioso e curto com tolices sem valor significativo – games ou aplicativos variados, por exemplo, com os quais se pode “queimar” um tempo que se acumula em meses, com benefícios mínimos ou nulos. Tempo valioso que não voltará e que poderia ter sido usado para incontáveis objetivos mais produtivos: educação dos filhos, com demonstrações concretas de amor e afeto; orações pelo sustento e o sucesso de si e de sua família; recitação de Salmos para cura, saúde e disposição; estudo de Torá, que proporciona uma recompensa espiritual incalculável para cada instante dedicado ao mesmo. Por outro lado, há o receio e um grande medo do veredito celestial próximo.
O shofar nos chama para acordarmos de nossa letargia mental pelas coisas terrenas e clama para que possamos despertar e nos envolver com as necessidades de nossa alma. É como um alerta: nos inspira temor lembrando que este é o Dia de nosso julgamento. A mensagem do shofar, segundo Maimônides, é:
"Acordai de vosso sono e ponderai sobre os vossos feitos; lembrai-vos do Criador e voltai a Ele em penitência. Não sejais daqueles que per-dem a realidade de vista ao perseguirem sombras ou esbanjam anos buscando coisas vãs que não lhes trazem proveito. Olhai bem vossas almas e considerai vossos atos; abandonai os caminhos errados e os maus pensamentos e voltai a D'us, para que Ele tenha misericórdia para convosco!"
Esta é a função mais importante dos sons do shofar: inspirar a alma e provocar vibrações extraordinárias no coração, ativando o sentimento do arrependimento e humildade.
Por esse motivo, o Todo-Poderoso ordenou que se tocasse a Teruá com o shofar e, ao recebermos sobre nós o jugo do reinado divino universal, adocemos esse veredito e sejamos carimbados para uma vida maravilhosa.

Nossa relação com o próximo



Resolver desavenças com o próximo

Como limos em artigos anteriormente , dias antes de Rosh Hashaná e durante os “Asseret Yemei Teshuvá” (dez dias de arrependimento e conserto) deve-se fortalecer e melhorar o estudo da Torá, a Tefilá e a Tzedaká, fazendo todo um esforço necessário para não transgredir as proibições da Halachá. O mérito do estudo da Torá é tão grande que pode expiar por todos os pecados, até mesmo aqueles que as oferendas do Templo não expiavam. O estudo da Torá pode anular decretos celestiais impostos sobre as pessoas. Em especial deve-se tomar a iniciativa de resolver desavenças com os próximos. Se a pessoa tem ciência de que magoou ou causou dano a outrem – de qualquer espécie, proposital ou involuntariamente, de forma discreta ou em público –, deve se esforçar para buscar o perdão deste agredido, insistindo ao máximo para que o perdoe.
Se o dano causado foi financeiro, para que seja possível iniciar o processo de Teshuvá (arrependimento e conserto), antes de mais nada, é necessário obviamente saldar a dívida com o próximo. Em seguida, deve-se pedir desculpas visando que o próximo o perdoe pelo sofrimento causado. Por fim, deve confessar verbalmente este pecado diante de D’us. Quem, D’us nos livre, envergonhou o próximo, proposital ou involuntariamente, deve pedir veementemente o seu perdão completo, e só depois deve confessar verbalmente este pecado grave diante de D’us. É importante ressaltar que quem magoou ou causou dano a outrem em público, deve pedir-lhe perdão em público.
Uma pessoa que tem consciência de que cometeu um pecado contra outra deve ir até esta, detalhar diante dela o pecado cometido e finalmente pedir o seu perdão de forma explícita. Se o pecador tem noção de que o detalhamento do pecado pode causar sofrimento ou constrangimento à pessoa, ele deve apenas pedir perdão e se esforçar para anular toda influência sobre o agredido dos fatores relacionados ao pecado. O perdão deve ser pedido pelo próprio pecador, a não ser que este saiba que o agredido preferirá e aceitará melhor o pedido de perdão se este vier por meio de um representante.
Se o agredido não está disposto a perdoar, o pecador deve convocar três homens que o acompanhem no pedido de perdão. Caso esta iniciativa – com esta composição – não adiante, deve repeti-la mais duas vezes. Se, depois da terceira tentativa, o agredido não aceitar o pedido de perdão, o pecador passa a estar isento de insistir e este que não perdoou é que passa a ser considerado o pecador. Neste contexto, é muito importante e correto do ponto de vista judaico aceitar o pedido de perdão e perdoar em geral as pessoas, já que o Todo-Poderoso é piedoso e indulgente, perdoando inúmeras vezes as criaturas. Além disso, Ele age conosco por meio do conceito “midá kenegued midá” (“medida por medida”) – ou seja, se queremos que D’us perdoe os nossos pecados, devemos perdoar os pecados cometidos contra nós.

quarta-feira, setembro 14, 2016

Elul: Seu potencial



A força do mês de Elul


Com a ajuda de D’us, nos encontramos no mês de Elul. Este mês é chamado de “Mês da Misericórdia e do Perdão”. Os Sábios nos ensinaram que os dias deste mês são propícios para a absolvição e o perdão, pois nestes dias o Todo-Poderoso concordou em perdoar os filhos de Israel pelo pecado do bezerro de ouro. Depois que Moisés desceu pela primeira vez do Monte Sinai, com as Tábuas da Lei em suas mãos, testemunhou que os israelitas haviam feito o bezerro e quebrou as tábuas. Depois disso, decretou a morte de todos os que haviam idolatrado o bezerro, moeu o ídolo e misturou seus restos em água. Em seguida, fez todos os israelitas beberem a mistura. Todos os que haviam pecado com o bezerro morreram assim que beberam daquela água. Entretanto, a ira divina sobre os filhos de Israel ainda era muito grande.
No Rosh Chodesh Elul daquele ano, Moisés subiu pela terceira vez ao Monte Sinai para rezar e pedir perdão completo para o povo de Israel. Sua oração foi aceita no Yom Kipur – 40 dias depois – e D’us aceitou a Teshuvá (“retorno” – arrependimento e conserto) dos filhos de Israel. Imediatamente, Moisés desceu para entregar as segundas Tábuas da Lei aos israelitas. Assim, como neste processo de 40 dias a Teshuvá dos filhos de Israel, durante o êxodo do Egito, foi aceita, estes dias se tornaram em todas as gerações um período com um potencial especial para a aceitação da Teshuvá perante o Todo-Poderoso.

Como vimos nas linhas superiores, no início do mês de Elul, Moisés subiu pela última vez ao Monte Sinai para receber o perdão definitivo e as segundas tábuas. Neste dia, Rosh Chodesh Elul, D’us ordenou que se tocasse um shofar, para que o povo não errasse mais praticando idolatria, assim que Moisés se afastasse. Naquele dia, O Todo-Poderoso foi exaltado e enaltecido por meio desse toque de shofar.
Por isso, os Sábios determinaram que se tocasse o shofar no Rosh Chodesh Elul todos os anos. Os ashkenazim costumam tocar o shofar todos os dias do mês de Elul, após a Tefilat Shacharit (oração matutina). Os sefaradim costumam recitar as Selichot (oração de perdão) durante todo o mês de Elul e tocar o shofar na recitação do kadish no final das Selichot. Como halachá, quem não ouviu o shofar no final da oração, em algum dos dias do mês de Elul, não é obrigado a procurar alguém que lhe toque, pois esse toque de shofar é apenas um costume.