sábado, fevereiro 19, 2011

Falso Messianismo; As Dez Tribos Perdidas

DAVID REUBENI

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Uma das figuras mais românticas do século XVI foi o aventureiro judeu David Reubeni. A narrativa de seu diário de viagens, através da Europa e do norte da África (1522-1525), está cheia de histórias exageradas sobre suas extravagâncias, grandes tesouros e serventes cruéis. Eruditos consideram muitas partes desse diário como fictícias, baseadas em mitos correntes àquela época. Ao mesmo tempo, seus escritos refletem uma natureza profundamente religiosa, uma agudeza política hábil e inventiva e uma obsessão inabalável em levantar o moral e o espírito dos judeus oprimidos, com promessas de redenção.

Conhece-se a data exata de seu nascimento, 1490 porem sua desaparição física é uma incógnita, 1535 para alguns poucos, outros se fundamentam em 1538, e existe alguns historiadores que mantém 1541, como a mais provável.

O lugar de nascimento em um local referenciado como Hobur ou Khaibar que foi posteriormente identificado com um lugar de um nome similar no centro da Arábia.

Capturado pela inquisição junto a Salomão Molcho, Reubeni foi levado para Espanha e atribuído à Inquisição de Llerena. Nada mais foi ouvido falar dele. Ele provavelmente morreu lá, como Herculano informou que "um judeu que veio da Índia para Portugal" foi queimado em um auto da Fé em Évora em 1541 (Enciclopédia Judaica). Outra fonte disse Reubeni morreu em Llerena, Espanha, depois de 1535.

Em 1523, depois de passar algum tempo em Alexandria, Jerusalém e Damasco, Reubeni viajou de navio para Veneza; nessa visita à Veneza, temos o registro de sua primeira aparição. Descrito por um contemporâneo (Abraham Farissol) como “baixinho, troncudo, de compleição escura e exímio cavaleiro”, a presença desse viajante misterioso na Itália levantou esperanças messiânicas intensas entre seus semelhantes.

Em Veneza, Reubeni dizia-se filho do rei Salomão e irmão do rei José, que dirigia os membros das Tribos Perdidas -- 300 mil almas! – no deserto de Habor (um dos lugares para onde os israelitas foram exilados, conforme descrito no livro dos Reis II; alguns pensam que se localiza no desfiladeiro entre o Afeganistão e o Paquistão). Esse exército, alegava Reubeni, compreendia as tribos de Gad, Rúben (Reuvén) e metade da de Manassés (Menashé), e ele era seu comandante-chefe. (Ele dizia ser da tribo de Rúben, daí seu nome; outras vezes afirmava ser descendente da tribo de Judá e até traçava sua linhagem até o rei David). Reubeni pediu aos judeus de Veneza para ajudá-lo em uma missão importante perante o papa, e muitos notáveis acataram seu pedido.

Em 1524, Reubeni chegou a Roma, montado em um cavalo branco.

Reubeni propôs uma aliança com o papa Clemente VII e com as nações cristãs contra os turcos: as nações européias forneceriam a munição e seu irmão levantaria as forças militares de seu exército de israelitas. Assim os israelitas poderiam recuperar a Palestina (Terra Santa ou Terra de Israel) dos muçulmanos turcos (que haviam conquistado Jerusalém em 1517), e o mundo cristão poderia impedir seu avanço em direção ao Ocidente.

O papa, muito impressionado, tornou-se patrocinador de Reubeni e deu-lhe cartas de recomendação ao Rei João III de Portugal e ao mítico rei etíope Preste João. Vários banqueiros judeus em Roma forneceram fundos para Reubeni, a fim de que levasse a cabo seu sonho messiânico.

Em Portugal, o rei deu a Reubeni boas-vindas calorosas, e assim também fizeram os marranos (cristãos-novos, vivendo secretamente como judeus), que ficaram convencidos ser ele o Messias prometido.

Da mesma forma, cultivava contatos com o sultão de Fez e com os judeus no norte da África. O tumulto causado por ele começou a levantar suspeitas em Portugal de que ele estava procurando incitar os marranos, e foi então expulso. Seu diário contava mais aventuras ocorridas na França e na Itália, onde conseguiu novamente levantar o fervor messiânico. Foi finalmente preso e acusado de seduzir os cristãos-novos a abraçarem o judaísmo; pereceu na prisão, na Espanha.

O diário de Reubeni, cuja autoria é questionada por muitos estudiosos, tem sido assunto de vários romances.

BIBLIOGRAFIA

Adler, E.N., A Trajetória dos Judeus (1930).

Roth, Cecil, in: REJ, 116 (1957).

Roth, Cecil, in: O Povo Judeu (1963).

Marek Halter, O Messias (1999).

Enciclopédia Judaica