domingo, setembro 05, 2010

A PRINCESA

A PRINCESA


Certa vez, viveu um grande rei que tinha apenas uma filha. A princesa era nobre e honrada e quando cresceu, o rei procurou um jovem virtuoso para desposá-la. Muitos príncipes e duques cortejavam-na, mas ela recusou-os um a um. “Este é um glutão” ou “Este gosta por demais de vinho” - dizia ela. O rei, impaciente, jurou que o próximo jovem que passasse pelos portões do palácio se casaria com a princesa.

Aconteceu que o primeiro homem a passar pelos portões do palácio era um mero camponês. Mas o rei, sendo um homem de palavra, casou sua filha com ele. O noivo levou sua esposa até seu povoado, onde se estabeleceram.

Para o camponês, a princesa era apenas uma mulher e a tratava como sempre achou que deveria tratar sua esposa. Ele trabalhou duro; seu rosto formoso ficou marcado e suas mãos se tornaram ásperas pelo trabalho. Os camponeses vizinhos freqüentemente troçavam dela e a insultavam. A coitada da princesa estava muito infeliz. Começou a escrever a seu pai diariamente, queixando-se. O rei ficou com pena de sua querida filha e mandou um recado que iria visitá-la.

A notícia da chegada do rei espalhou-se rapidamente no povoado e começou o rebuliço. Todos acorreram à casa do genro do rei para ajudar na limpeza e decorá-la. A princesa começou a ser tratada com grande respeito. Não tinha mais que fazer trabalhos pesados e sujos. Fizeram-lhe um tratamento de beleza e foi vestida com roupas finas. Todos passaram a ser amistosos e a respeitá-la.

Quando o estafeta do rei chegou trazendo a notícia que o monarca estava a caminho, todos saíram para cumprimentá-lo. “Viva o rei! Viva a princesa!” - gritavam eles, enquanto acompanhavam o rei e sua filha pelo povoado decorado e iluminado.

O rei entrou na casa de seu genro, achando-a limpa e impecavelmente decorada com enfeites e flores. Viu a honra e respeito gozados por sua filha e ficou contente. Estranhou que a filha tivesse escrito tais cartas alarmantes.

O pai e a filha passaram um dia feliz, juntos, e o rei preparou-se para voltar. A princesa abraçou seu pai e começou a chorar: “Ó pai, querido pai, não me deixe aqui, leve-me junto! Por favor, leve-me para casa!”

“Mas minha querida filha” - respondeu o rei - “você parece estar feliz aqui; percebe-se que eles estão lhe tratando com mais respeito e afeição do que a qualquer princesa que conheço!”

“Ó caro pai” - chorou a princesa - “toda esta honra e afeição que eles demonstraram hoje é só para agradar ao senhor. Eles souberam de sua vinda e foi por isso que fizeram tudo isto. Mas assim que partir, começarão a tratar-me como antes, insultando-me e fazendo-me muito infeliz.”

O rei chamou seu genro de lado e perguntou-lhe: “Que maneira é essa de tratar minha filha? Você não sabe que ela é uma princesa?”

Os olhos do marido encheram-se de lágrimas, enquanto respondia: “Sua Majestade, eu sei que ela é uma princesa, mas o que poderia eu fazer? Sou um homem pobre e preciso trabalhar duro para sobreviver. Sou incapaz de proporcionar-lhe o tipo de vida que ela realmente merece. Além disto, vivemos em um povoado, entre pessoas maldosas e invejosas. Eles não apreciam as qualidades de sua filha e aproveitam todas as oportunidades para insultá-la. Mas o senhor é um grande rei. Uma vez que achou conveniente escolher-me como genro, leve-me embora daqui, eleve-me à sua posição, dê-me uma propriedade digna de sua filha e do genro do rei, e então serei capaz de dar a ela o tipo de vida que realmente merece!”

* * * * *
O Rei dos reis, O Santo, bendito Seja, quis dar sua filha, a Toráh, a Adam, o primeiro homem criado pelas suas próprias mãos. Mas a Toráh disse: “Ele é um glutão; ele comeu da Árvore do Conhecimento, contrariando seu mandamento expresso.”

Depois D’us quis dar a Toráh a Nôach e a Toráh disse: “Ele gosta demais de vinho. Não foi ele que plantou um vinhedo e ficou bêbado?”

Finalmente, D’us deu a Toráh aos filhos de Israel, aos quais acabou por tirar da escravidão do Egito.

Durante o ano inteiro, a Toráh é freqüentemente negligenciada e até envergonhada. Dia após dia, a Toráh envia mensagens ao Rei, queixando-se do tratamento que recebe, pois está escrito: “Todos os dias uma voz celeste chama: ‘Ai das criaturas que envergonharem a Toráh!’”

Então chegam os mensageiros do Rei para anunciar a sua chegada - são os dias de Elul, anunciando a vinda de Rosh Hashanáh. Eis que acordamos e começamos a preparação: oramos, estudamos, recitamos Salmos, como nunca antes. Rosh Hashanáh não nos encontra despreparados. Tocamos o Shofar e aclamamos o Rei dos reis.

D’us está entre nós e gozamos de Sua Luz Divina; os corações se enchem de reverência e amor pela proximidade de D’us e Sua Majestade Divina. Chega Yom Kipur e D’us encontra todos os judeus penitenciando-se, puros e santos, como os anjos.

Mas depois de Neilá e após o toque do Shofar que anuncia a partida da Presença Divina, a Toráh começa a gritar: “Pai, pai, não me deixa! Leva-me contigo, porque em breve tomarão de mim toda a glória, esquecerão quem eu sou, recomeçarão a maltratar-me!”

Então D’us diz a Seu povo: “É esta a maneira que tratam minha filha? Vocês não sabem que a Toráh é uma princesa Divina?”

E o povo judeu responde: “Mestre do Universo! Nós conhecemos a grandeza da Toráh, mas que podemos fazer? Vivemos na pobreza, não temos um lar adequado. Habitamos entre as nações do mundo que não querem saber da Toráh. Assim sendo, por favor, leva-nos daqui, conduze-nos de volta à nossa Terra Santa, pois o mundo inteiro é Teu; devolve-nos a ela como herança e seremos capazes de manter a Toráh em glória!”

É por isso que, logo após o toque do Shofar, no fim de Yom Kipur, dizemos:

“No próximo ano em Jerusalém com o Teu justo O Redentor, e Unidos e lá Te serviremos como nos tempos antigos!”