domingo, janeiro 30, 2011

E falando de Toráh.........., continuamos com as obras monumentais, …

Bíblia – Talmud.

Talmud - Imagem

Há pouco tempo atrás o prestigioso escritor, ensaísta e conferencista Dr. Gustavo Daniel Perednik, lançou um livro mais, aumentando sua vasta lista de publicações.

Este ultimo livro, com o nome em espanhol: “La Patria fue um Libro”, “La Biblia, su legado, su pueblo y su tierra hasta 1880".

O mesmo percorre o vinculo histórico milenar entre o Povo Judeu e a Terra de Israel, a partir do relato bíblico.

A Bíblia foi poesia, ficção, filosofia, ecologia, moral, era muito mais. E era uma pátria. Um país em tamanho de bolso que anunciava a redenção do povo judeu, a razão para a esperança intacta.

Como traz o autor, em uma das partes de seu livro, um conceito do poeta alemão Heinrich Heine: À Bíblia foi a pátria portatil dos judeus”.

Em função disto, da importancia que teve a Biblia, ao longo dos séculos, quando o Povo Judeu errante em suas jornadas, procurando como esperança milenar, a chegada do redentor, que permitisse encontrar seu caminho, e dirigir-se de retorno a seu unico lar, a sua patria; não menos foi a importancia da significante obra chamada Talmud, um vasto mar de conhecimentos, de narrações (Hagadot), de investigações rabinicas (Midrashim), de mistica (Cabaláh) que atinge a todos assuntos, aparentemente em forma desordenada, porem que demonstra uma visão intelectual, do que mais adiante seria um boom no mundo do conhecimento, que é o mundo do virtual.

Devemos para que aqueles que ainda não estão aprimorados com detalhes da Biblia e do Talmud, oferecer-lhes um breve sinteses daquilo que por uma parte, como diz o afamado Dr. Gustavo Perednik, “Como o Livro implicou para os judeus uma terra. E como a Terra foi o Livro, e o Livro a pátria.”

Devemos com justa razão dizer que essa patria teve uma coluna vertebral, chamada Talmud, que foi o principio da razão da subsitencia e continuidade do Povo Judeu ao longo de seus 2000 anos de exilio.

O Talmud surgiu para manter a unidade do Povo Judeu. Foi a primeira sinal da globalização, a partir de um povo disperso, porem unido a traves de sua intelectualidade, espiritualidade e tradições.

Hoje em dia, temos estúdios de Talmud (Daf Iomi – Uma pagina diária), ao longo de nosso planeta, utilizando o mundo virtual como comunicação e forma de estudo. De todos os cantos, temos pessoas que dia a dia, soma-se a esse vasto mundo do conhecimento, tão atual, como tão fundamental.

Desenharemos uma breve idéia dessas obras fundamentais para o desenvolvimento, sua continuidade e a existência do Povo Judeu

A Bíblia é formada por 24 livros e é denominada TaNaCh- acrônimo de Toráh (Pentateuco), Neviim (Profetas) e Ketuvim (Escritos).

1. - A TORÁH (o Chumash, Pentateuco ou os cinco livros de Moisés) alude aos Mandamentos a cumprir. A raiz da palavra hebraica Toráh é hora’á - ensinamento.

A referencia ao nome em hebraico de cada um dos cinco livros deve-se a palavra mais importante escrita no primeiro versículo.

Bereshit - Gênesis: No princípio. “No princípio criou D’us os céus e a terra”. Desde a criação, patriarcas até a morte de Iossef em Egito.

Shemot - Êxodo: Nomes. “E estes são os nomes dos filhos de Israel...”. Saída dos judeus da escravidão de Egito, recebimento da Toráh no Monte Sinai.

Vaicráh - Levítico: “E chamou a Moisés e falou-lhe o Eterno..”. Trata dos serviços e sacrifícios realizados; a consagração dos sacerdotes, leis de pureza

Bamidbar - Números: Censo no deserto e acontecimentos precedentes a chegada na terra prometida. “E falou o Eterno a Moisés no deserto...”

Devarim - Deuteronômio: Palavras. “Estas são as palavras que falou Moises...” Discurso de Moises, sua despedida antes de morrer.

2. - NEVIIM (profetas): levavam a mensagem divina ao povo

Divide-se em Neviim Rishonim (Primeiros Profetas)

Neviim Achronim (Profetas Posteriores)

I. NEVIIM RISHONIM:

Ioshua (Josué): sucessor de Moises como chefe do povo hebreu.

Shoftim (juízes): chefes das tribus que atuaram como juízes e dirigentes do povo. O período abarca entre Josué e Samuel.

Foram doze juízes; entre eles Débora (a única mulher)

Shmuel Alef, Shmuel Bet (Samuel) foi sacerdote e profeta. Ultimo Juiz e primeiro Profeta, sucedeu a Eli HaCohen. Ungiu aos reis Saul e David.

Melachim Alef e Melachim Bet (Reis l e ll): velhice do rei David, proclamação de Salomão, divisão em dos reinos, caída deles.

II. NEVIIM ACHRONIM: Isaias, Jeremias, Ezequiel [estes três primeiros profetas maiores, já que cada um deles tem um livro], Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miquéias [Micháh], Nahum, Habacuc, Sofonias [Tsefaniá], Ageu [Hagai) , Zacarias [Zecharia], Malaquias [Malachi], (Estes estão considerados em um livro só)

3. - KETUVIM:

Tehilim (salmos) compostos pelo Rei David

Mishlê: máximas morais composto pelo rei Salomão

Livro de Jô: O justo colocado a prova.

Meguilot ou Rolos, livros que sua características de escrita são denominados rolos, e são lidos em situações especiais.

I. Shir HaShirim (Cântico dos Cânticos) composto pelo rei Salomão que reflete o amor de D’us para Israel. Lê-se, na festividade de Pêssach (Páscoa Judaica)

II. Rut: Lê-se em Shavuot

III. Echáh (lamentações): trata sobre a caída de Jerusalem. Lê-se em Tisha BeAv (Nove do mês do calendário hebraico Av, dia de luto para o povo judeu)

IV. Cohelet (Eclesiastes) escrito pelo rei Salomão. Lê-se na festividade de Sucot (Cabanas)

V. Ester: Lê-se em Purim

Daniel: suas visões proféticas e suas peripécias no exílio da Babilônia.

Ezra: escriba retorna com os hebreus a Israel após o exílio babilônico

Nehemias: governador de Judéia Reconstruiu as muralhas de Jerusalém. E junto a Ezra reconstruíram o Bêt Hamikdash ou a Casa Santa de Jerusalém, também conhecido como Templo de Salomão.

Divrei Haiamim Alef (Crônicas l): Desde Adão, Noé, Israel, Saul, David e Salomão.

Divrei Haiamim Bet (Crônicas ll): Morte de Salomão, reino de Judéia.

A lei oral ou os ensinamentos orais. A coluna vertebral.

TALMUD: lei oral-Torá she-be’alpê- entregue a Moises no Monte Sinai junto com a Torá (lei escrita). Define e dá forma ao judaísmo, alicerçando todas as leis e rituais judaicos. O Talmud (do hebraico limud, “estudo” ou “aprendizado”) os explica, discute e esclarece. O Talmud é uma mescla de arte e ciências: é o livro da legislação judaica - técnico e preciso - mas é também uma enciclopédia e uma obra magistral de sabedoria, jamais igualada na história da humanidade.

Existem dois versões do Talmud: Babli (babilônica) e Ierushalmi (jerosolomitano ou de Jerusalém). A primeira versão é mais rígida e é a fundamental.

O Talmud tem dois componentes principais: a Mishnáh, um livro sobre a lei judaica, escrito em hebraico, e a Guemará, comentário e elucidação do primeiro, escrita no hebraico-aramaico. Com este mesmo (proveniente do aramaico) nome é conhecido também o Talmud

É a Mishnáh que provê a Guemará de sua base organizacional e factual. A Mishnáh surge como o árbitro final em qualquer litígio talmúdico.

No ano de 188 da e.c., o Rabi Yehudá ha-Nassi (Rabi Yehudáh o Príncipe), terminou de compilar a Mishnáh. No século V da e.c., Rav Ashi, importante sábio babilônico, iniciou a compilação da Guemará (do hebraico gamar, completar).

Os sábios da Mishnáh eram os tanaim (tanaitas). Os mais destacados: Hillel, Rabi Iochanan bem Zacai, Rabi Akiva, Iehuda Hanasi, Raban Gamliel.

Os Amorim (amoraitas), da palavra hebraica emor (falar) comentaram e explicaram a Mishna de forma oral criando o material que compõe a Guemara.

6 ordens da Mishnáh:

1- Zeraim (Sementes): leis agrícolas, alimentares, bênçãos.

2- Moed (festas): Shabat e demais festas

3- Nashim (mulheres): casamento, divórcio, relações sexuais.

4- Nezikim (danos): lei civil, lei criminal

5- Kodashim (coisas sagradas): sacrifícios

6- Tahorot (purificações): leis de purificação para o serviço do templo

Dentre da Mishna encontra-se a seção conhecida como Ética dos Pais (Pirkê Avot) com máximas rabínicas.

O Midrash provém da raiz hebraica drush, pesquisar, procurar. E uma coleção de lendas que colaboram na compreensão do texto.

Apêndice

Uma explicação filosófica e conceitual dessa maravilhosa obra chamada Talmud.

Se a Bíblia é a pedra fundamental do judaísmo, o Talmud é sua coluna vertebral. Eleva-se desde os cimentos e suporta todo o prédio espiritual e intelectual. Em muitos sentidos o Talmud é o livro mais importante dentro da cultura judaica, a coluna vertebral da criatividade e a vida nacional. Não tem nenhuma outra obra que exerceu uma influencia tão primordial sobre a teórica e pratica vida judaica. Nenhuma como ela moldou o conteúdo espiritual e serviu de guia para a conduta do Povo Judeu. É claro hoje dizer que o Povo Judeu, teve consciência de que sua supervivência e desenvolvimento dependem em grã parte ao estudo, conhecimento e aprendizado desta obra monumental, a hostilidade que foi apresentada ao judaísmo, principalmente na idade meia, atacava a esta obra magnífica, censurando-lo, difamando-lo, humilhando-lo e condenado-lo em um passado recente as fogueiras da ignorância e intolerância.

Durante algumas épocas se proibiu se estudo o conhecimento Talmúdico, pois resultava evidente que uma sociedade judaica que deixara de estudar esta obra não tinha esperanças de sobreviver.

Não é fácil definir ou caracterizar, breve e concisamente, o Talmud. É um tema que escapa à definição pela grande variedade de seu conteúdo e, sobretudo, porque não existe outra obra com a qual estabelecer um termo de comparação.

O Talmud, tão atacado, tão discutido e tão menosprezado, é pouco - para não dizer nada - conhecido. A maioria dos que dele se ocuparam, apenas repararam e insistiram em seus defeitos; no entanto, fora do Judaísmo, são contados os que penetraram no oceano dos seus livros com a honrada intenção de encontrar as pérolas, de aproveitar o que tem de bom e de útil, sem deter seus pensamentos no que, à primeira vista, poderia parecer inútil.

Quando, em 1304, o papa Clemente V quis saber o que era o Talmud, muito embora já houvesse sido objeto de polêmicas religiosas - essas polêmicas quase sempre são estéreis - e de numerosos ataques, ninguém foi capaz de responder á sua pergunta: ninguém sabia fazê-lo. E apesar das cátedras que fundou, o Talmud, as belezas do Talmud, continuou sendo desconhecidas. Um só exemplo, porém significativo.

Poder-se-ia alegar que isto ocorria na Idade Média, época em que um religioso chegou a crer que o Talmud era um nome próprio e dizia: "ut narrar rabinus Talmud" (*); mas, mesmo na Idade Moderna são pouquíssimos - entre eles não se pode deixar esquecido o nome de Reuchlin - os que chegaram não a resolver, porém apenas a delinear o problema em seus justos limites. Em pleno século XX, um teólogo permitiu-se dar grandes gargalhadas porque um tratado inteiro fora dedicado aos ovos, ignorando por completo que é comum no Judaísmo designar-se uma obra por suas palavras iniciais. E ainda hoje muitos mencionam o Talmud - e exatamente o mesmo pode-se dizer em relação à Cabaláh - como algo obscuro e. . . Absurdo, um dos muitos tópicos paradoxais que abundam na cultura atual.

O Talmud não somente alimenta a alma e o espírito, mas também atiça a imaginação; embora não seja uma obra de arte, contém muitas obras de arte. É bem verdade que figuram nele coisas úteis e inúteis, de grande valor ou puramente anedóticas; mas daí a que seja um absurdo, existe um grande abismo que é preciso - e a isto nos propomos - vencer.

É evidente que não se pode julgar o Talmud com o mesmo padrão que se emprega para medir as demais obras literárias. São necessários critérios especiais, pois o Talmud não é somente literatura, mas sim a vida inteira do Judaísmo vertida em uma obra.

Trata-se de uma vasta enciclopédia, aparentemente muito desordenada, na qual existe de tudo, porém sem sistema, isto é o que se elabora desde a concepção, de um mundo ocidental, que dificilmente consiga entender o sistema de raciocínio. No Talmud é difícil encontrar o dado concreto, a menos que seja de matéria legal - porque esta matéria tem ainda hoje validez no Judaísmo - em cujo caso umas chaves-índice, as codificações que mais adiante citaremos, são auxiliares indispensáveis.

Se à desordem com que as matérias estão distribuídas na "Enciclopédia" se acrescenta o fato de que os autores, cujo número se aproxima de dois milhares, pertencem a diversas épocas e regiões geográficas, a muito variadas escalas sociais e formações, desde o ignorante ao sábio, portanto de desigual autoridade, sustentando às vezes teorias muito díspares, inclusive contraditórias, expostas seja em ordem direta umas às outras, seja em páginas muito distantes entre si, - explica-se que junto a idéias sublimes se encontrem opiniões ou ditos vulgares; que junto a moral elevada venham citadas superstições populares, que junto à regra médica, lógica e perfeitamente regulamentada, apareçam remédios de curandeiro. Eis aí para alguns uma enciclopédia caótica. Mais a idéia de verbetes, que deu lugar a links, começa, por lá, e não no hoje mundo virtual.

O Talmud foi amiúde criticado de que ao associar assuntos tão diversos, a mente vê-se incapaz de separar o sutil do vulgar, o externo do espiritual; mas mesmo que assim seja o ulterior desenvolvimento da história judaica demonstrou a carência de base de tal conceito. O Talmud nunca foi considerado um código fechado, porém muito mais um apanhado das diversas interpretações das leis bíblicas e tradicionais, um relato verídico das variadas opiniões rabínicas acerca das experiências humanas em relação com a sociedade, com Israel, com D’us e com o reino Divino.

No Talmud, podem distinguir-se duas partes, ou melhor, dito: duas obras separadas que se encontram numa só edição. Estas duas obras são: a Mishnáh e a Guemará; a primeira - única, a segunda - dupla, e cuja formação e conteúdo estudaremos sucessivamente.

Porem se desejamos em definitiva definir o Talmud, podemos dizer que é uma visão antiga do que seria hoje em dia a Wikipédia. Suas discussões com sábios de diferentes gerações e lugares geográficos faziam nessa época um exercício do virtual que a imaginação conseguiria concretizar quinze séculos depois.

Devemos lembrar que o Talmud, a seus sábios foram chamados de Amoraim, assim como os sábios da Mishnáh, foram chamados de Tanaim. Amoraim significa: “Aqueles que comentam”, ou “comentaristas ou discutidores”, já que sua função era deglosar todo aquilo que escrito na Mishnáh (Tradição Oral), e deixar-lo em sua forma final. Taná, cuja raiz etimológica é equivalente em aramaico a raiz da palavra hebraica shanáh, que é a base filológica da palavra Mishnáh. O verbo da palavra SHaNaH, literalmente significa repetir o aprendido e usado com o significado de aprender. Também tem conceitualmente a mesma concepção de dois, ou segundo. Os sábios da Mishnáh ensinavam, já que era tradição oral e não escrita, por meio da repetição e reiteração dos conceitos aprendidos.

Teve sete gerações de proeminentes sábios Amoraitas.

O primeiro deles foi Abba Ariká, conhecido com Rav. Foi o ultimo Taná, o primeiro amora, discípulo de Rabi Yehudáh Hanasi, Rabí Yehudáh o príncipe, mudo-se de Israel para Babilônia e foi o fundador e diretor da Academia Rabínica (Yeshiváh) de Sura.

Os últimos Sábios Amoraitas foram

Rav Ashi (f. 427), discípulo de Abaye, Rava e Rav Kahana. Diretor da Academia, em Mata Mehasia. Principal redator do Talmud babilônico. Seu contemporâneo Ravina I (f. 421), discípulo de Abaye e Rava, colega de Rav Ashi, na Academia Rabínica de Mata Mehasia, onde também participou na redação do Talmud Babilônico. Estes dois últimos foram sábios Amoraitas da sexta geração, que transitou desde o 371 a 427 d.e.c. O ultimo sábio amoraita que foi o líder da sétima geração destes sábios, Ravina II (f. 500 outros dizem que foi no ano 499), discípulo de Ravina I e Rav Ashi. Diretor da Academia Rabínica Sura, completo finalmente e encerrou o Talmud Babilônico. Alguns dizem que ao finalizar a obra ele faleceu, outros dizem que faleceu um ano após fechamento do Talmud Babilônico.

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(*) O bispo e teólogo francês Jacques-Bénigne Bossuet (27/09/1627 – 12/04/1704) pediu certa vez ao filósofo alemão Gottfried Wilhelm von Leibniz (Cientista, matematico, diplomata e bibliotecario alemão, alem de ser filosofo) que lhe enviasse um livro do Talmud, traduzido por "Monsieur Mishnáh".