“Affaire” – Dreyfus
O inicio do Sionismo Político
(1894-1906)
(1894-1906)
Há 110 anos de sua reabilitação
O caso (Affaire) Dreyfus foi um escândalo
político que dividiu a França por muitos anos, durante os finais do século
XIX.
A manifestação Judeofobica que deu lugar a construir as bases ideológicas para a construir do Estado Moderno de Israel, a partir da criação do Movimento Sionista.
Centrava-se na condenação por traição de Alfred
Dreyfus em 1894,
um oficial de artilharia Judeu no exército francês. Dreyfus era, em verdade,
inocente: o condenamento baseava-se em documentos falsos, e quando oficiais de
alta-patente franceses se aperceberam disto tentaram ocultar o erro. O escritor
Émile
Zola expôs o escândalo ao público geral no jornal literário L'Aurore
numa famosa carta aberta ao Presidente da República Félix Faure, intitulada J'accuse!
(Eu acuso!) em 13 de Janeiro de 1898. Nas palavras da
historiadora Barbara W. Tuchman, foi "uma das grandes comoções da
história". Enquanto que Bernard
Lazare e Scheurer tinham até então defendido
Dreyfus, Zola partiu para o ataque, denunciando os culpados pela farsa.
O caso Dreyfus dividiu a França entre os dreyfusards
(os apoiantes de Alfred Dreyfus) e os antidreyfusards (contra ele). A
disputa foi particularmente violenta, uma vez que envolvia vários assuntos no
clima controverso e agitado de então. De certa forma, estas divisões seguiam a
linha de demarcação entre uma direita apoiando frequentemente o retorno à monarquia e
clericalismo - ou seja, o envolvimento da Igreja Católica Romana na política
pública - e uma ala esquerda apoiando a República,
muitas vezes com sentimentos anti-clericais. A virulência das paixões
levantadas pelo caso deveu-se ao anti-Semitismo
em França.
Em 1886 havia sido
publicado o livro anti-semita de Edouard
Drumont, "La
France Juive". Intelectuais
- professores, estudantes, artistas, escritores - assinaram pedidos
intercedendo por Dreyfus.
Em suas demonstrações gritavam "Vive
Dreyfus! Vive Zola!". Do outro lado da barricada, os gritos eram de
"Vive l'Armée! Conspuez Zola! Mort aux Juifs!" Dreyfus era
apresentado como o bandido que vende os seus irmãos como Judas (supostamente)
vendera o seu "Deus". Houve pilhagens de lojas de judeus, numa
premonição da Kristallnacht da vizinha Alemanha. Houve
verdadeiros pogromas
na Argélia
em Boufarik, Mostaganem, Blida, Médéa, Bab el-Oued. Houve violações, mortos e feridos.
Dreyfus morreu em 1935, aos 75
anos, como tenente-coronel, mas nada apagou os seus longos anos de privação de
liberdade e sofrimento.
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Origem do caso
Tudo começou quando em 1894 Madame Bastian,
empregada da limpeza na Embaixada Alemã em Paris descobriu uma
carta suspeita no cesto do lixo do adido militar alemão, o tenente-coronel Schwarzkoppen. Madame
Bastian entregou os papéis aos serviços secretos franceses, que logo concluíram
que existia um traidor entre os oficiais franceses, que fazia espionagem para
os alemães. Quando o caso se tornou conhecido, a carta passou a ser conhecida
como "le bordereau" (o memorandum).
Tabela cronológica dos acontecimentos
- Finais de Setembro de 1894 - O bordereau chega à posse do ministério da guerra.
- 15 de Outubro de 1894 - Dreyfus é preso
- De 19 a 22 de Dezembro de 1894 - Dreyfus é julgado e condenado por um tribunal militar. É condenado à prisão perpétua na Ilha do Diabo.
- 5 de Janeiro de 1895 - são-lhe retirados os galões de oficial numa cerimônia humilhante
- 21 de Fevereiro de 1895 - Dreyfus embarca para a prisão na ilha
- Finais de Outubro de 1896 - o jovem jornalista Bernard Lazare publica uma brochura chamada "O erro judiciário - A verdade sobre o caso Dreyfus"
- 10 de Novembro de 1896 - o jornal "Le Matin" publica o bordereau, onde se pode ver a assinatura
- 11 de Novembro de 1897 - Mathieu Dreyfus, o irmão de Alfred, descobre que Charles-Ferdinand Walsin Esterhazy foi o verdadeiro culpado (um senhor Castro reconheceu no bordereau a assinatura de um seu cliente).
- 13 de Janeiro de 1898 - é publicado o "J'accuse" no "L'Aurore (tiragem de 300.000 cópias)
- Finais de Janeiro de 1898 - Violência anti-semita na Argélia
- 23 de Fevereiro de 1898 - após processo, Zola é condenado a um ano de prisão e 3.000 francos de multa. Perrenx, dono do "Aurore" foi condenado a 4 meses de prisão e 3.000 francos de multa
- 3 de Junho de 1899 - o tribunal de cassação anula o julgamento de 1894 e reabre o processo, re-enviando Dreyfus a um novo conselho de Guerra. Zola é autorizado a regressar do exílio de Inglaterra.
- 7 de Agosto a 9 de Agosto de 1899 - conselho de Guerra em Rennes- Dreyfus permanece um traidor e é condenado a 10 anos de prisão.
- 19 de Setembro de 1899 - Dreyfus é amnistiado e deixa a prisão, apesar de continuar a ser considerado culpado
- 29 de Setembro de 1902 - Émile Zola não veria o fim do processo - é encontrado morto por asfixia em circunstâncias misteriosas e não esclarecidas até hoje.
- Julho de 1906 - Dreyfus é finalmente reabilitado
- 4 de Junho de 1908 - Cerimônia da transferência das cinzas de Zola para o Panthéon. Tentativa de homicídio a Alfred Dreyfus, que é ferido num braço.
Imagem:
Capa do Petit
Journal de 23 de dezembro de 1894, data do primeiro julgamento de Dreyfus.
Fonte: Biblioteca Nacional, Paris.
“(...) Que folhas de
tolerância, tirando alguns milhares de exemplares, ululem e mintam para forçar
a tiragem, compreende-se: o mal que fazem é restrito. Mas que o Petit Journal, tirando
mais de um milhão de exemplares, dirigindo-se aos humildes, penetrando em toda
parte, semeie o erro, desvaire a opinião, eis o que assume excepcional
gravidade. Quem tem um tal encargo de almas, quem é pastor de um povo inteiro,
deve ser de uma probidade intelectual escrupulosa, sob pena de incorrer em
crime cívico.
“Aí está, França, o que
encontro em primeiro lugar, na demência que te arrebata: as mentiras da
imprensa, o regime de contos ineptos, de baixas injúrias, de perversões morais,
em que ela te lança todas as manhãs. Como poderias querer a verdade e a
justiça, quando enxovalham a tal ponto todas as tuas virtudes lendárias, a
claridade de tua inteligência, a solidez de tua razão?” (ZOLA, É. Acuso,
Cartas à França, págs. 62-63).