quarta-feira, abril 07, 2010

Os dias hebraicos não possuem nomes próprios

O SHABAT


Os dias hebraicos não possuem nomes próprios e sim primeiro, segundo, até chegar ao único que tem nome, o Shabat. Seu nome deriva de seu conteúdo especial: um dia para a liberação do homem. O realismo da tradição israelita não pode evitar a contemplação de dias sufocantes, dias penosos, trabalhos que escravizam, alguns mais, outros menos. É a realidade:

“Com o suor do teu rosto comerás pão todos os dias da tua vida...”(Gênesis III, 17)

A cessação do trabalho, que o Shabat requer não é um mero recurso “social” para compensar problemas de sete dias. Pretende muito mais: a recuperação do homem em sua essência . A possibilidade de estar consigo mesmo, sem alienação, com a família, esposa, filhos, membros da casa:

“Recorda-te do dia de sábado para santificá-lo. Seis dias trabalharás e farás teus trabalhos e o sétimo dia é para deixar o trabalho, para teu D’us”.

Não farás tarefa alguma, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem teu gado, nem o forasteiro que habita na tua cidade”.(Êxodo XX, 8-10)

Desta maneira, também, o duro trabalho dos outros seis dias deixa de ser um castigo e volta-se para o Shabat. Assim, com efeito, vê o poeta em Salmos CXXVIII:

“ Quando comas do trabalho das tuas mãos.
Que bom para ti, feliz de ti.
Tua esposa será como parreira fecundável,
por toda a tua casa.
Teus filhos como brotos de oliva,
em torno da tua mesa”.

Trabalhar para alguma coisa, para alguém, para um dia na semana de paz interior e entre os humanos, a sua vez, poderia ser felicidade e não castigo.

É aí que a santidade do Shabat, o dia maior e mais santo do ano judaico é superado, talvez, apenas pelo Dia do Perdão. Assim, recupera-se a harmonia prevista na criação.

A estrita proibição de todo trabalho ordena, indiretamente, que o homem retome outras necessidades da vida, esquecidos no caminho do tráfego cotidiano.


Começa - este palácio no tempo, como o chama o Rabino Abraham Ioshua Heschel -na noite de sexta-feira (as jornadas judaicas se se tendem do pôr do sol ao pôr do sol). O pai e os filhos vão à sinagoga, aonde se recebe o Shabat como a uma rainha-noiva:

“ Vamos, meu amado, ao encontro da noiva”, o rosto do Shabat “receberá”.

Ao retornar para a casa, brilham as velas acesas. Resplandece a mesa. A mais pobre das casas se enriquece com uma luz que provém de outra esfera, não material.

É preceito divino comer , alegrar-se e cantar.

É um dia com tempo para quem nunca tem tempo.

Tempo para viver, conviver, pensar, agradecer, rezar e reviver a existência e seus mistérios e refletir. Isso é o que todos querem e não sabem como consegui-lo: sermos nós mesmos.

O Shabat é um oásis de D’us para o homem.