domingo, novembro 02, 2014

Reflexões Sobre a Perasháh Hashavua

Reflexões Sobre a Perasháh Hashavua –

VAIERÁ

Por Rav Prof. Rubén Najmanovich

Vaierá (Gênesis 18:1 - 22:24)

Haftará

II Reis 4:1-37

Vamos abrir as portas?

Desta vez, vamos analisar um relato menor da parashá ou, melhor, uma anedota não escrita na parashá.

A parashá começa com a seguinte frase: ¨E apareceu D’us a ele [Abraham] em Elonei Mamre, enquanto ele estava sentado na entrada da sua tenda no calor do dia¨. Este trecho levanta um problema: a Torá nunca dissera, anteriormente, que Hashem falou com alguém sem dizer o que Ele falou. Sabemos que toda a missão da Torá é contar as profecias e revelações, os diálogos divinos com o homem. Então que foi que disse D’us a Abraham nessa oportunidade? Se não era importante especificar o que foi dito, para que a Torá trouxe esse evento enigmático?

Os nossos sábios trazem, no Midrash, toda uma trama por trás desse silêncio bíblico. Na realidade, Abraham se encontrava, naquele momento, no terceiro dia após ter feito a vontade de D’us (descrita na parashá anterior). Fizera o seu Berit Mila e se encontrava muito fragilizado e com dores. D’us, conhecedor do prazer que Abraham tinha em ter convidados na sua casa, quis economizar este esforço do seu servo amado. Para tal, fez com o sol ficasse muito quente a ponto de, por causa da sua intensidade, forçar Abraham a descansar na sua tenda e, assim, convalescer da sua operação. Isso explica a expressão ¨no calor do dia¨. Há que acrescentar que D’us decidiu cumprir Ele próprio a mitzvá de Bikur Cholim (visita aos doentes) e veio visitar o seu querido Abraham.

O nosso patriarca, por seu lado, apesar do plano de Hashem, resolveu sentar fora da sua tenda (por isso esta escrito ¨na entrada da sua tenda¨) com o objetivo de localizar algum viajante que ele poderia convidar para a sua tenda como era o seu costume. Finalmente, diz o midrash, quando viu de longe três beduínos levantou-se e correu na sua direção para que aceitassem seu convite e viessem a sua casa. Assim aconteceu e a continuação desta história é bem conhecida.

Os nossos sábios fazem duas colocações sobre a questão de não ter havido uma troca de palavras entre D’us e Abraham: ou foi por respeito ao doente que Ele visitava, para não cansá-lo ou foi pela brevidade de Sua visita. E mais: o mesmo midrash diz que, justo quando Hashem estava para dirigir a palavra a Abraham, este  pediu licença a Hashem porque ele tinha urgência em atender os seus convidados. Será possível entender uma coisa dessas? Que Abraham, o grande profeta, pai do povo judeu, o homem que esperou até a idade de 75 anos para escutar pela primeira vez a voz do Eterno, perderia essa oportunidade de elevação espiritual para poder atender três anônimos e dar a eles de comer? Sem falar da falta de respeito em deixar a D’us sozinho justo quando o visitava!

Rashi solucionou todos estes problemas citando esta frase de Chazal: ¨É mais importante a mitzvá de acolher o convidado do que o atendimento da Shechiná (presença divina)¨. Aos olhos dos sábios de Israel era mais importante atender um homem desamparado, carente de comida, roupa, lugar de descanso, do que ter mais um momento de inspiração divina.

Esta é uma grande verdade prática, halachá lemaasse, como escreveu Rambam no seu livro Iad Hachazaka [Hilchot Avel, 14:2]. Explicou Rambam que quem pratica Hachnassat Orchim está cumprindo uma mizvá derabanan, que esta incluída no grande conceito de ¨amaras ao teu próximo como a ti mesmo¨. Amar é um ato ativo de dar, enquanto que ouvir a voz da profecia é um ato de receber. E a Torá sempre dará preferência ao ato ativo e intensionado do homem.

Este conceito não deve ficar só na teoria. Muitas vezes, entram em nossas sinagogas pessoas que não conhecemos, que se encontram bastante desorientados por estar em um ambiente ao qual não estão  acostumados. Estas pessoas são carentes de atenção, de explicação, de espaço, chegam com um forte sentimento de temor pelo desconhecido. Este é um momento em que nós devemos deixar um pouco de lado nossas divagações espirituais e tentar realizar um bom hachnassat orchim. Seguirmos as orientações de Abraham Avinu e, assim, fazer com que este iehudi que, talvez depois de muitos anos de dúvidas, finalmente resolveu entrar na sinagoga, volte novamente e talvez venha se juntar, talvez para sempre, a nós. 

Shabat Shalom!