domingo, agosto 11, 2013

Isto não é importante: Zeh Lo Jashuv

Isto não é importante

Zeh Lo Jashuv

          Zalman e Rivka Rothberg estavam casados há mais de quinze anos. Eles tinham oito filhos e Rivka estava esperando seu nono. Os dois tinham uma convivência harmônica, porém havia uma diferença entre eles que com frequência atrapalhava o relacionamento.

          Zalman era um tipo de pessoa meticulosa, enquanto que que Rivka era um tipo de pessoa mais tranquila e às vezes desligada. Quando Zalman se irritava pelas coisas não terem saído da forma certinha como queria, Rivka sorria e dizia suavemente em hebraico, זה לא חשוב, "zeh ló chashuv (isto não é importante)".

          Era sua expressão favorita e ela a utilizava constantemente. Se por exemplo Zalman estivesse pronto na hora que era para estar e ela estava atrasada, ela sorria e dizia calmamente, "zeh ló chashuv". E de fato, sua atitude relaxada para a vida resolveu muitos problemas e dispersou muitos momentos de tensão. Ainda assim, havia momentos em que Zalman ficava fora de si.

          Numa quinta-feira à tarde, quando Rivka e as crianças estavam em sua casa de campo em Catskills, ela ligou para Zalman, que estava na cidade e pediu para ele pegar no banco um novo talão de cheques e trazer no dia seguinte quando voltasse para passar o Shabat com a família na casa de campo. Quando ela falou novamente com ele na sexta de manhã, lembrou-o mais uma vez para não esquecer de trazer o talão de cheques.

          Ele imediatamente colocou o novo talão numa das sacolas que estava trazendo para a família. Na sexta à tarde, assim que chegou na casa de campo, ele entregou a ela a sacola com o talão de cheques dentro.

          No Shabat, pela manhã, ele percebeu que Rivka havia pendurado a sacola no armário do quarto com o cheque ainda dentro, intocado!

          Zalman ficou por conta da vida. Rivka havia lhe telefonado duas vezes para lembrá-lo do talão de cheques. Ele fez exatamente o que ela pediu, e no entanto ela não teve o interesse de tirá-lo da sacola. Ele não disse nada, pois não queria estragar a tranquilidade do Shabat com reclamações. Fora isso, ela provavelmente iria ignorar sua crítica e iria dizer gentilmente, "zeh ló chashuv (isto não é importante)".

          Após o Shabat, ele retornou novamente à cidade para mais uma semana de trabalho, e na sexta-feira seguinte voltou para a casa de campo. Para sua surpresa, a sacola estava pendurada no mesmo lugar de antes e com o talão de cheques na mesma posição!

          "Obviamente não deve ter sido algo tão urgente," ele pensou consigo mesmo, "então por que ela me fez ir correndo ao banco para pegar este novo talão?"

          Mais uma vez ele não disse nada. No entanto ele estava sentindo muita raiva. No Domingo à tarde ele voltou para a cidade e retomou sua rotina semanal. Dois dias mais tarde ele recebeu um telefonema de uma amiga de sua esposa. Rivka havia sido levada às pressas para o hospital. Havia complicaçòes graves na sua gravidez e os melhores médicos estavam cuidando dela naquele momento.

          Zalman partiu imediatamente para Catskills, porém quando chegou ao hospital, já era muito tarde. Rivka havia falecido dando à luz.

          Zalman ficou arrasado.

          Os amigos e familiares, chocados com o ocorrido, o acompanharam de volta até a casa de campo. Quando ele entrou no seu quarto, a primeira coisa que viu foi a sacola pendurada no armário com o talão ainda dentro. Com lágrimas rolando no seu rosto ele retirou o talão da sacola e colocou no seu bolso.

          Naquela noite ele preencheu o primeiro cheque do talão. Era para o Chevra Kadisha. No dia seguinte ele preecheu o segundo cheque. Era para o enterro.

          Após o período de shivá (luto de sete dias), Zalman pegou a sacola vazia e a pendurou num local bem visível e escreveu por fora do saco três palavras – ZEH LÓ CHASHUV.

          Ele a manteve lá por meses.

          Cada vez que ele olhava para a sacola ele pensava, "Ela não estava certa? Essas bobagens não eram realmente insignificantes? Vale a pena ficar discutindo por bobagem?"

* * * * *

          A lição que ele aprendeu na morte de sua esposa, nós devemos aprender em vida, antes que seja muito tarde.

          A maioria das discussões que temos, seja em casa, no escritório, na escola, na Sinagoga ou no trabalho, começam com coisas pequenas e insignificantes que realmente não são merecedoras de entrarmos numa discussão por causa delas.

          Um comentário mais áspero leva a outro e logo uma coisa pequena toma grandes proporções, trazendo rancor e discórdia. Muitas vezes o fogo pode ser controlado, porém infelizmente há vezes em que o ódio atinge proporções fora de controle.

          Na próxima vez que sentirmos que uma discussão está por vir, devemos perguntar a nós mesmos: Será que este não é um assunto em que eu poderia dizer, "zeh ló chashuv"?

(Echoes of the Maggid – Rabi Paysach J. Krohn)

Shavua Tov Umeborach