domingo, maio 17, 2020

A Festa de Shavuot


A Festa de Shavuot



Em quase duas semanas, comemoraremos a festa de Shavuot, com relação à qual há um fator interessante: diferentemente das demais festas bíblicas, cujas datas exatas são especificadas na Toráh, a festa de Shavuot é lembrada no texto bíblico sem ser relacionada a uma data específica, sendo a sua marcação dependente da Sefirat Haomer (Contagem do Ômer). Do dia seguinte ao primeiro dia de Pessach (16 de Nissan), no qual se trazia a oferenda do Ômer ao Templo de Jerusalém, conta-se 49 dias e, no quinquagésimo dia, comemora-se Shavuot. Atualmente, quando consagramos os meses de acordo com um calendário calculado de forma exata, Shavuot cai todos os anos no dia 6 do mês de Sivan.
 
Esse conceito de que Shavuot depende cronologicamente da festa de Pessach nos remete à ideia de que somente por meio de Pessach e sua essência poderemos chegar ao patamar da essência de Shavuot. Na festa de Pessach revelou-se ao mundo a mais pura fé em D'us. Revelou-se a todos que o mundo possui um Líder. Mas, para promover a evolução do mundo por meio desta revelação maravilhosa, nós, o povo de Israel, precisamos receber a Toráh, na qual constam todas as leis e as orientações sobre como nos comportarmos – o que fazer e o que não fazer – para atingirmos o Tikun Olam (conserto do mundo) de maneira plena.
 
Em algumas passagens da Toráh e dos livros dos Profetas, a relação entre o povo de Israel e D'us é comparada ao relacionamento entre o noivo e a noiva. Nesta metáfora, a saída do Egito representa o "erussin" (noivado) entre Israel e o Todo-Poderoso, quando D'us elegeu os israelitas entre os povos para um relacionamento e uma missão especial. Em Shavuot, por sua vez, ocorreu a "chatuná" (casamento) entre ambos, já que é por meio da Torá, entregue nesta data, que podemos viver a aproximação e a união ao Criador.
 
Por outro lado, depois que saíram do Egito, os israelitas não puderam receber a Torá, pelo fato de terem descido a um nível espiritual degradante – o do 49º mais baixo degrau de impureza –, após o longo exílio sob jugo idólatra. Este patamar era terrível, pois, de acordo com os livros místicos, ao se atingir o 50º mais baixo degrau de impureza espiritual, não há mais possibilidade de conserto. E explica Rabi Shimon Bar Yochai, no livro do Zôhar, que, da mesma maneira que uma mulher que se encontra no período menstrual precisa contar sete dias no seu processo de purificação, Israel precisou contar sete semanas para se purificar em seu relacionamento com o Todo-Poderoso, louvado seja.
A preparação e a purificação para a festa da entrega da Toráh (Shavuot) representa um fator tão significativo em termos da essência da festa que a Toráh decidiu chamá-la justamente de Shavuot (""semanas"") – o principal nome deste chag, que remete ao processo de preparação. Embora a Toráh a tenha chamado por outros nomes: Chag Hakatzir (festa da ceifa), Yom Habikurim (dia das primícias) e Atzeret (parada), o seu nome principal, como dissemos, é mesmo Shavuot.
 
Além da Toráh Escrita, entregue no dia da festa de Shavuot, outro presente nos foi dado neste dia: a Toráh Oral (Toráh Shebeal Pe ou Mishnáh). Às vésperas do grande dia, D'us ordenou que Moisés anunciasse ao povo de Israel que deveria se preparar e se santificar por dois dias antes da entrega da Torá, que ocorreria numa sexta-feira. Moisés, porém, decidiu por conta própria acrescentar um dia à preparação, e ordenou que os israelitas se aprontassem em três dias. De fato, o Todo-Poderoso concordou com a decisão de Moisés e a entrega da Toráh foi postergada e anunciada para um dia após a previsão inicial, ou seja, num Shabat. Eis, portanto, uma demonstração da importância e da força da Toráh Oral (representada neste caso pela intervenção de Moisés às orientações divinas), pois até mesmo a entrega da Torá foi adiada por um dia pela iniciativa de um representante da Toráh Oral (de Moisés, o primeiro dos Sábios).
 
A festa de Shavuot é também chamada de “festa da ceifa”. A explicação para este nome está relacionada às estações do ano, pois a festa de Pessach acontece sempre na primavera, quando as plantações começam a crescer; a festa de Shavuot ocorre sempre no fim do período da ceifa; já a festa de Sucot cai na época da colheita de grãos e frutas. Do ponto de vista místico, é possível verificar que este processo que ocorre no mundo natural ocorre também nos mundos espirituais superiores. 
 
A festa de Pessach ocorre num período de começo e recomeço agrícola anual, no qual as plantações iniciam seu processo de crescimento. Por isso saímos do Egito nesta época do ano e nos tornamos um povo – o início da nação israelita. Na festa de Sucot, época da colheita dos grãos e frutas, ocorre a finalização do trabalho árduo no campo. Por isso saímos de nossas casas para morar por uma semana na Sucá, demonstrando o nosso entendimento de que vivemos nesse mundo sob a proteção e a supervisão diária do Todo-Poderoso – uma constatação que denota lapidação espiritual pós um árduo trabalho de autoconscientização. Na festa de Shavuot, por sua vez, quando acontece o auge do desenvolvimento das plantações e se inicia a ceifa, ocorreu também o auge do desenvolvimento do potencial espiritual dos filhos de Israel e, por isso, foi nesta data que recebemos a nossa sagrada Toráh.

Shavuot Inicia Quinta-feira 28 de maio 2020 ao sair das estrelas, e finaliza 30 de maio ao culminar Shabat 40 minutos após o pôr do sol.

Chag Sameach!!!!!!