quinta-feira, janeiro 10, 2013

Perasháh da semana em português. Vaerá (Shemot - Éxodo 6:2 – 9:35)

Sofre pela dor de seu povo

Vaera sefer shemot

“Então Moisés, voltando-se para o Senhor, disse: Senhor, por que maltratas este povo? Pois desde que me apresentei a Faraó, para lhe falar em teu nome, ele tem maltratado este povo, e, de fato, não libertaste o teu povo!” (Êxodo 5:22-23)

Moisés nosso mestre, o mais humilde dentre todos os homens, lança palavras duras contra o Senhor. Dando os seus primeiros passos como líder do povo, lança um desafio contra as virtudes do Abençoado Seja Seu Santo Nome, criticando-o forte e destemidamente, sobre as ações divinas: “Por que maltratas este povo? ……… Pois desde que me apresentei a Faraó, para falar em teu nome, ele tem maltratado este povo, e, de fato, não libertaste o teu povo.” Percebe-se um tom raivoso e agressivo dentro da acusação esta. O Senhor, a julgar-se pelas aparências, violou a promessa que fez a Moisés e a seu povo. Angustia-se com a saída do povo e sofre pela sua aflição. E o Senhor,aparentemente, não é sensível ao grito do seu povo.

Como ousa um ente de carne e osso falar assim com o Senhor do universo? Pois não se consideraria tal forma de falar como um pecado que não tem expiação, e ainda especialmente, quando saem da boca do maior de todos os profetas ?!

Os nossos sábios, de abençoada memória, discutiram a respeito desta questão, e suas opiniões a respeito são trazidas no Talmud (Tratado Sanhedrin, página 100, folha A):

“Assim falou o Abençoado Seja Seu Santo Nome a Moisés: É pena por aqueles que se perderam e não estão mais ! Disse a Abraão (Gênesis 13:17): ‘Levanta-te! Percorre essa terra no seu comprimento e na sua largura, porque eu ta darei’ – pediu um lugar para enterrar Sara e não o encontrou, até que comprou por 400 shekels de prata – e não vacilou diante da base de meus princípios; disse a Isaac (Gênesis 26:3): ‘Habita nesta terra, eu estarei contigo e te abençoarei’ – pediram os seus servos água para beber e não a encontraram, até que provocaram uma contenda – e não contestou perante os meus princípios. Disse a Jacó (Gênesis 28:13): ‘A terra sobre a qual dormiste, eu a dou a ti e à tua descendência.’ Pediu por um lugar onde pudesse erguer a sua tenda, e não o achou, até que comprou por 100 kessita (moeda do tempo bíblico) – e não contestou perante meus princípios. E não me disseram: Qual é o teu nome? E tu me respondeste: ‘Qual o teu nome’, no começo. E agora tu dizes: ‘e, de fato, não libertaste o teu povo’ ?!”

E será o caso que Moisés, o maior dos profetas, tem algo de inferior em relação a Abraão, Isaac e Jacó, sendo que eles não contestaram os princípios do Abençoado Seja Seu Santo Nome. E então Moisés contestou?

Mas todas as tentativas feitas por eles, pelos pais, não se relacionaram senão em suas questões pessoais, ligadas a eles próprios, e sendo assim, receberam tudo com boa vontade e com amor. Mas aqui, no caso de Moisés nosso mestre, quando a questão se refere a muitos, à totalidade do povo de Israel, aqui não poderia o líder, o pastor de Israel, ser comedido e mesmo silenciar, mas sacrificou-se e empenhou-se pelo bem de seu povo Israel.

E acrescente-se ainda a isto: As duras palavras de admoestação proferidas por Moisés contra o Senhor, saíram dum coração magoado, onde está a ferida sangrando de toda a nação. De sua boca, irrompeu o brado irado de todo o povo: “… e, de fato, não libertaste o teu povo!”. Neste brado rebelde, revela-se Moisés em toda a sua grandeza. Este grito vem a ser o ponto de mutação, onde o julgamento severo transforma-se em branda misericórdia, “E sendo que observou o Abençoado Seja Seu Santo Nome que pela aflição de Israel havia-se manifestado Moisés desta forma, voltou e se conduziu perante o seu povo com misericórdia” (Yalkut Shimoni Behaalotcha, 11).

Shabat Shalom