domingo, maio 12, 2013

Shavuot: Um breve pensamento

SHAVUOT

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Shavuot implica a maturidade do ser. Seu nome o sugere, já que está ligado com a cifra cabalística “sete”, que denomina perfeição. “Sete semanas” depois do primeiro dia de Pêssach, têm que se contar para alcançar a festa de Shavuot: “a semana das semanas”, no dia cinqüenta.

As fontes bíblicas para o aspecto agrícola da festa de Shavuot são: Êxodo XXIII, 14-16; Êxodo XXXIV, 22; Levítico XXIII, 15-21; Números XXVIII, 26-31; Deuteronômio XXVI, 1-11.

Todos estes textos da Toráh dizem o motivo da primeira colheita e a gratidão do homem a D’us, na liturgia, na palavra, na oração e pelos frutos obtidos.

O segundo assunto, “a entrega da Toráh” é pós-bíblico. Não obstante, será este, o que, através do tempo, cobrará maior relevância na tradição do povo, dado que em seu tormentoso exílio, não tinha outro refúgio que a sua Toráh, lei e sabedoria, norma e consolo.

Quando no último século, propôs o Sionismo o retorno a pátria de Israel, os chalutzím foram recuperar seu contato físico e cósmico com a terra. Renasceu então - e, fundamentalmente, com a criação do Estado de Israel em 1948 - a epopéia de apalpar com mãos próprias, frutos próprios, na terra própria, e elevar gratidão ao céu.

Diz no Salmo CXXVI:

“Os que plantam com lágrimas colhem entre cânticos”.

Detenhamo-nos agora no vocábulo “Toráh” e suas várias interpretações

Os primeiros cinco livros da Bíblia (Pentateuco).

Configuram o todo da Lei, cujo eixo histórico se delimita no monte do Sinai e a revelação da palavra de D’us ante todo o povo, na aliança (Berit) introduzida pelos “dez mandamentos” ou “Decálogo”.

O mediador entre D’us e o povo foi Moisés. Recebeu a palavra e a transmitiu. A tradição estabelece aqui dois momentos ou categorias dentro da palavra: 1) A palavra escrita; 2) a palavra oral, comentário da anterior, e que passa de geração em geração.

A tradição oral, também ela, foi relatada por escrito na monumental obra do Talmud (século VI), explicitação, codificação e interpretação dos ensinamentos da Toráh (escrita). Maimônides, o grande filósofo judeu-espanhol (1135-1204) explica que, na realidade, a tradição oral deveria permanecer eternamente oral, mas os perigos que assolavam o povo da Toráh fizeram com que todo este acervo se documentasse e não fosse perdido, nem esquecido.

Em conseqüência, “Toráh” chegou a ser conceito amplo e equivalente, também, a “cultura, pensamento e mundo interior”. Tanto quanto o cumprimento da Lei, foi consagrado pelo povo e sua história, o estudo da Lei, a discussão, a pergunta, a aprofundamento. Na Mishnáh mencionam-se as grandes obras que não têm medida e todas são superadas por uma: TALMUD TORÁH, o estudo da Toráh.

Recordamos sumariamente a ordem e conteúdo dos “Dez Mandamentos”.

1. Eu sou teu D’us.

2. Não terás outros deuses; não farás imagens de idolatria.

3. Não falarás o nome de D’us em vão.

4. Honra o sétimo dia, o Shabat.

5. Honra e respeita a teu pai e a tua mãe.

6. Não matarás.

7. Não cometerás adultério.

8. Não roubarás.

9. Não incutirás em falso testemunho.

10. Não cobiçarás tudo o que é do teu próximo.

Este Decálogo, se distribui formalmente, em duas partes, correspondentes as duas pedras aonde estava gravado. A distribuição não é fortuito. Os primeiros cinco mandamentos referem-se às relações do homem com D’us. Mesmo que no caso do quinto esteja escrito textualmente: “para que teus dias sejam mais compridos na terra que teu D’us te dá”. Nos cinco restantes , no entanto, não aparece menção alguma a D’us, e, portanto, referem-se às relações do homem com o homem.

Esta divisão formal, não obstante, não é mais que aparente. No Judaísmo, a idéia ética é total e absoluta, não admite parcialidade. O Decálogo é um. As duas partes complementam-se, exigem-se reciprocamente. O que se admite e se acentua é que a existência humana se desenvolve - ou deve desenvolver-se - em um duplo plano ao uníssono: relação com D’us e relação com os homens. O mesmo indivíduo que em Shavuot oferecia as primícias de seu campo e fala a D’us, é o mesmo que minutos mais tarde deverá alegrar-se, com seus próximos. Ambos os atos configuram uma idêntica realização vital; cada um deles tomando separadamente e em forma individual é imperfeito e falível.