quinta-feira, junho 05, 2008



OS OLHOS DA POMBA


O silencioso ruído do ar passando sobre asas de penas a mil pés de altura. Uma pomba voa sobre os campos, e seus olhos esquadrinham a distância. A um quarto de milha de distância se deslumbra um palhal pela bruma matutina. Uma pomba solitária em um céu hostil. Não há outros pássaros a vista. A pomba indaga o céu com seu olhar penetrante? A aterrissagem será segura? A pomba não tem calcanhares. Suas asas não lhe permitiriam escapar aos muitos predadores. Os olhos da pomba são sua única proteção.
A Toráh e o anteprojeto da realidade. Através de dito anteprojeto, os grandes Rabinos de todas as gerações iluminaram e esclareceram o mundo em que vivemos. Eles conhecem este anteprojeto com uma profundidade e tal sutileza que são quase impossíveis de compreender. Eles são capazes de analisar a construção do mundo, igual que o construtor visualiza um edifício ao observar seu anteprojeto. A eles nada é novo, porque tudo está na Toráh. D’us dá a estes sábios um conhecimento, uma longe sinal de profecia, De como guiar ao Povo Judeu. São eles os que sabem ler seu “manual” melhor que ninguém. Tudo está contido na Toráh, seja em forma explícita ou encoberta, mas faz falta um Rabi Akiva, um Maharal de Praga ou um Gaon de Vilna para poder extrair com precisão seu conteúdo e aplicá-lo ao contexto contemporâneo. Os grandes Talmide Jajamim (Eruditos da Toráh) de cada geração, recebem um poder de entendimento singular de como compreender a forma em que se maneja o mundo. Isto lhes permite ser os líderes do Povo Judeu como mais ninguém conseguiu ser.
Mas este poder, este conhecimento está baseado em uma só idéia, a preparação sábia de poder diferenciar os tempos e os momentos, de cada uma das situações que enfrentamos dia a dia, e como colaborar com esta erudição, para poder conduzir-nos com estas vivências.
No Cantar dos Cantares diz: “Teus olhos são pombas”. O Midrash explica que “teus olhos” se refere a Sanedrin, o corpo legislativo supremo do povo judeu, na época antiga. Os membros de Sanedrin são os “olhos da congregação”. Eles são capazes de ver por trás das máscaras da realidade, mas além do alcance da mera sabedoria convencional. Eles representavam a liderança sócio-religiosa, na qual apoiava-se o povo, um sistema conduzido com muita delicadeza, sabedoria e principalmente com um coração com entendimento profundo.
O poder de liderança surge do povo. Em cada geração, D’us nos promete que haverá líderes espirituais, os grandes sábios da Toráh, a quem D’us conferiu a capacidade de aconselhar e dirigir a nação. No entanto, quando o povo judeu nega-se a escutar a esses gigantes espirituais, indo em troca atrás dos políticos e outros, que não possuem mais inteligência que nós mesmos, então nossos líderes espirituais ficam sem nenhum poder para transmitir, para assistir.
Quando D’us disse a Moshe que fora falar com o Faraó este respondeu: “Eis aqui que os filhos de Israel não me escutaram. Então: vai me escutar o Faraó?. E tenho os lábios selados”. (Êxodo - Shemot 6:12). Se o povo judeu houvesse escutado a Moisés, se lhe houvesse aberto a boca e os lábios, suas palavras teriam afetado inclusive ao Faraó, mas já que os filhos de Israel não escutaram, os lábios de Moshé “estavam selados”.
Então surge outra questão, os líderes espirituais sabem escutar, compreender e entender o povo, para que seus lábios se abram?. Porque resulta-nos fácil colocar por encima dos nossos ombros a simples e vaga resposta é culpa deles, indicando com nossas mãos, o que elabora a mente e sente o coração, em uma difícil missão de ter a grandeza de evoluir e elaborar as atitudes simples? Assim como Moshe, que se negou repetidamente a cumprir a missão indicada por D’us, de resgatar ao nosso Povo da escravidão.
O Erudito da Toráh não é somente alguém que vai e te pergunta se o frango é ou não Kasher. O erudito da Toráh é alguém que conhece a natureza de cada ato, pensamento e palavra. É Kasher? É aceito? O mundo moderno celebra a falta de convencional idade. O que verdadeiramente não é convencional, é a sabedoria dos nossos grandes Rabinos. Uma sabedoria que não está limitada nem pelos costumes nem pelas exigências do momento. Implícito no mandato de “Shemáh Israel” (Escuta, compreende Israel) está o entendimento de que D’us nos fala através de seus emissários designados, em todos os momentos e em todos os lugares, para que eles com a doçura compreensiva das palavras os instalem no mais profundo do nosso interior, como uma semente, e ela começa a germinar dando os frutos da vivência sentida, como a continuidade do judaísmo.
Pêssach nos dá a oportunidade de liberar-nos do que nos acossa. Conversemos com nossos líderes. Os líderes devem compreender os sentimentos para ajudar a cumprir com a liberação. Não com agressão e sim com a simplicidade e doçura que deve ser a bandeira e estandarte dos líderes, para ser pombos de Amor e Paz. Para que os olhos vejam os conteúdos e os vasilhames, para voar com a imaginação de uma comunidade unida, buscando o destino comum, liberando-nos do “Egito moderno escravizante”, sem brigas, sem discussões e unidos por um presente de tradições e vivências que nos orgulham de ser um povo , de ser Judeus.

Fontes:
Talmud Babilonico - Tratado Meguila 12ª, Meam Loez, Shir ha Shirim Rabáh, Sefat Emet, Rabí Reuven Subar.